A SAD do Vitória de Guimarães entrou ontem com um pedido de insolvência da Sporting SAD por incumprimento do plano de pagamentos da transferência de Raphinha. Vamos lá por partes tentar deslindar todo este caso.
O negócio Raphinha
A contratação por Bruno de Carvalho
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Quadro contratações Sporting Verão 18/19 |
Como podem verificar, o Sporting contratou Raphinha ao Vitória de Guimarães por 6,5M de euros. Como habitualmente, na esmagadora parte das transferência, os montantes totais são divididos em tranches para serem liquidadas ao longo do tempo.
No relatório e contas anual de 2017/2018 podemos verificar que a administração de Bruno de Carvalho liquidou a primeira tranche de cerca de 2M de euros passando a dívida ao Vitória de 6,5M para cerca de 4,5M.
Importa também referir que destes 4,5M que ficaram por liquidar, 2M só terão de ser pagos no próximos exercício económico (19/20 - após 1 de Julho), uma vez que no ReC anual de 17/18 foram inscritos na rubrica de "fornecedores - não correntes".
A gestão de Sousa Cintra
Chegamos ao 1º ReC trimestral de 2018/2019 que compreende o período de 1 de Julho de 2018 e 30 de Setembro de 2018 e verificamos o seguinte:
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ReC 1º trimestre 2018/2019 |
Como podem verificar, o valor da dívida aumentou dos 4,517M para os 4,583M. Um acréscimo de 66 mil euros que acredito possam estar relacionados com algum acordo feito entre a administração da SAD do Sporting e o Vitória de Guimarães para protelar alguma tranche. É impossível ter a certeza absoluta sobre quem terá feito este eventual acordo, mas diria que terá sido a administração de Sousa Cintra, já que na entrevista de despedida do Sporting, o presidente interino da SAD disse que tinha a situação regularizada com o Vitória de Guimarães. Outro facto que me leva a ter esta análise está relacionado com o facto de a administração de Frederico Varandas ter entrado em funções a 9 de Setembro, sendo que o período de análise deste ReC termina a 30 de Setembro.
A gestão de Frederico Varandas
Olhando para as contas do 1º semestre e comparando-as com as do 1º trimestre é possível verificarmos que a dívida ao Vitória desceu dos 4,583M para os 4,1M. Ou seja, a administração de Frederico Varandas pagou 483 mil euros ao Vitória no último trimestre de 2018. Aqui não há margem para dúvidas porque nesse período a SAD foi gerida apenas pela administração do Presidente Varandas.
A tranche dos 2M até Janeiro
Pelos jornais de hoje ficamos a saber que a administração de Frederico Varandas teria de liquidar uma tranche de 2M até Janeiro deste ano. O Sporting não cumpriu com o que estava acordado com o Vitória e nem sequer chegou a um entendimento com os dirigentes vitorianos. É este incumprimento que o Vitória leva a tribunal para pedir a insolvência da SAD.
A ameaça
Primeiro que tudo é preciso recordar que no dia 25 de Fevereiro surgiram as primeiras notícias nos jornais sobre um eventual pedido de insolvência da Sporting SAD a pedido do Vitória de Guimarães.
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Capa Jornal Record e Abola de 26/02/2019 |
Como habitualmente, o Sporting optou pela tal "gestão silenciosa" e não disse uma única palavra sobre esta matéria. Dez dias depois, chegou o processo de insolvência a pedido do Vitória de Guimarães.
Resposta do Sporting
Ao final da tarde de ontem a imprensa começou a noticiar a entrada do processo de insolvência da Sporting SAD. A resposta do Sporting chegou por João Sampaio, vogal da SAD que numa nota enviada aos jornais disse o seguinte:
É de salientar que não houve uma única nota oficial ou comunicado nas redes de comunicação do Sporting. Apenas esta espécie de bitaite enviado às redações.
Resposta do Vitória de Guimarães
Ao contrário do Sporting, o Vitória de Guimarães reagiu através de comunicado oficial publicado no seu site e assinado pelo seu presidente. Portanto, o Sporting que é o clube acusado de estar em incumprimento e de estar envolvido num processo onde é pedido o fecho de portas, manda um vogal da SAD atirar umas larachas à imprensa. É a tal "gestão silenciosa".
Posto isto, eu pergunto: Onde anda o Presidente da Sporting SAD? Num processo desta importância, não seria de esperar que fosse o Presidente SAD a dar a cara, ou pelo menos, a fazer um comunicado oficial assinado por si e pela sua administração? Ou ver um concorrente da nossa Liga a fazer algo que nunca foi feito no desporto português é algo normal?
Análise ao bitaite de Sampaio aos jornais e ao comunicado oficial do Vitória
Diz João Sampaio no seu bitaite aos jornais que "o Vitória optou pelo histerismo público em vez de esperar pela solução de curto prazo que propusemos e ignoraram". No comunicado do Vitória de Guimarães é dito que é mentira que o Sporting tenha apresentado "uma solução de curto prazo credível". E mais, diz o Vitória que o Sporting "actuou com um profundo desrespeito pela nossa instituição".
Este é para mim o sumo das duas comunicações e que faz com que o Sporting tenha a faca e o queijo não mão. Se há essa proposta fantástica do Sporting para resolver o assunto no curto prazo, como diz João Sampaio, que seja mostrada aos sócios imediatamente. Mostrem lá os documentos com essa proposta e assim de uma vez por todos tiramos as dúvidas sobre quem está a falar verdade.
O outros pedido de insolvência
Num passado recente o Sporting já foi alvo de um pedido de insolvência, mas esses caso não tinha pés nem cabeça e estava relacionado com uma alegada dívida dos tempos de Godinho Lopes que depois foi comprada por uma empresa de recuperação de crédito. De recordar que três direcções do Sporting rejeitaram sempre a existência dessa dívida (Godinho Lopes, Bruno de Carvalho e Frederico Varandas) e que o processo acabou por morrer no final do ano passado com a desistência do requerente. Podem saber mais sobre isto
(aqui).
Ao contrário desse caso já resolvido na situação com o Vitória de Guimarães a dívida existe e é reconhecida por todas as partes.
Resumindo o caso
A administração de Bruno de Carvalho comprou o jogador por 6,5M e acordou com o Vitória pagar o jogador em prestações, sendo que 4,5M seriam pagos ao longo desta época e 2M seriam pagos na próxima época. A realidade é que a administração de Bruno de Carvalho deixou o Sporting com os compromissos em dia em relação a esta transferência, tendo pago de imediato as 2M ao Vitória. Segundo me é dado a perceber pelas contas e pelas declarações de Sousa Cintra, foi chegado a um entendimento entre os clubes para que uma outra parcela (a pagar no período da CG) fosse paga em Janeiro de 2019. Portanto, para todos os efeitos, Sousa Cintra também terá deixado a situação regularizada. O problema está na administração de Frederico Varandas que não conseguiu cumprir e nem sequer conseguiu chegar a um entendimento para protelar a dívida, atendendo às dificuldades de tesouraria do Sporting.
"Tá fácil"
Para os mais distraídos é preciso recordar que Frederico Varandas apresentou-se como candidato em Maio de 2018, sendo que as eleições foram em Setembro desse ano. São quase 4 meses de preparação para conhecer os problemas do Sporting e para encontrar soluções para os resolver. Já depois disso está há cerca de 6 meses no poder. Ora, falamos de uns impressionantes 10 meses para encontrar soluções para resolver o problema de tesouraria que está há muito identificado.
Na campanha eleitoral foi prometido aos sócios que esta lista teria soluções de financiamento alternativo nunca antes visto no mundo do futebol (até de bitcoins se falou) e que só em último recurso se iria recorrer ao montantes do contrato com a NOS. O que os Sportinguistas estão a ver é uma administração que falhou de forma estrondosa o empréstimo obrigacionista em que seriam necessários 60M para suprir as questões de tesouraria e nem metade desse valor foi conseguido. Para além disso, os tais meios alternativos de financiamento nem vê-los e parece que vamos agora recorrer ao tal "último recurso" - assim foi designado por Francisco Salgado Zenha - para conseguirmos cumprir com as nossas obrigações. Um "último recurso" que tem de estar definido até ao final deste mês por forma a cumprir as questões de licenciamento da UEFA e a questão da reestruturação bancária.
Para fechar
Explicado o caso é importante pensarmos no porquê de o Vitória de Guimarães ter tomado esta posição drástica. É que falamos de provavelmente o único clube nacional que tem boas relações com todos os clubes grandes e que numa base regular faz negócios com todos eles. Porquê alienar as boas relações com o Sporting? De salientar ainda que esta é a primeira vez que um clube em Portugal pede a insolvência de um outro clube. Têm ocorrido pedidos de insolvência de clubes, mas sempre feitos por entidades que não são clubes.
É que isto é tudo muito bonito, mas os 2M de euros vencidos fazem muita mossa num orçamento pequeno como o do Vitória de Guimarães, que também tem até ao final deste mês para regularizar o seu licenciamento para a UEFA. Também compreendo que não deve ser fácil para o Vitória de Guimarães ter este dinheiro a receber e no mesmo período vê o Sporting a gastar 15M em contratações (mesmo que também sejam parceladas) ou a fazer protocolos de treta com o Wolves pelos mesmos 2M de euros. Isto faz lembrar a história daquele tipo que nos deve dinheiro mas que continuar a ir a bons restaurantes e ainda por cima mete as fotos nas redes sociais.
Posto isso, não me parece que a posição do Vitória de Guimarães tenha sido tomada de animo leve, até pelos avisos que foram sendo feitos ao Sporting, sem que ninguém tenha reagido. A sensação com que fico é que o Sporting se borrifou para o Vitória de Guimarães e agora estamos a pagar a inabilidade de Frederico Varandas e seus pares, num processo que enxovalha o nome do Sporting. E este enxovalha mesmo porque ao contrário do outro pedido de insolvência, esta dívida existe mesmo e o Sporting está em incumprimento com o Vitória. Mas repito, há uma forma de o Sporting mostrar que o Vitória de Guimarães está de má fé neste caso, que passa por mostrarem a fantástica proposta que dizem que o Vitória de Guimarães terá rejeitado. O problema é que algo me diz que essa proposta fantástica nunca verá a luz do dia.
Para fechar, a minha expectativa é que nos próximos dias o conselho de administração da SAD feche mesmo o tal "último recurso" para se financiar e que este assunto fique resolvido.
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