Depois da AG ter mantido a suspensão dos antigos membros do CD do Sporting, Carlos Vieira publicou na sua conta de Facebook uma mensagem de agradecimento aos Sportinguistas e também o texto apresentado na AG. O texto é longo mas que vale mesmo a pena ser lido por todos os Sportinguistas.
Aqui fica:
A publicação
"A todas e a todos que ontem votaram a meu favor, contra a decisão de suspensão no âmbito de um processo disciplinar, fica o meu sincero agradecimento. Aos meus amigos e aos que, não o sendo, e até não gostando de mim, me defenderam de um processo que considero injusto, obrigado. Bem hajam. Deixo a todos, aqui, o texto que ontem apresentei na AG. Para memória futura. Porque a História do Sporting é superior a tudo e todos.
Exmo. Senhor Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal. Na sua pessoa cumprimento os restantes membros dos órgãos sociais. Estimados consócios do Sporting Clube de Portugal. Neste momento que para mim é de uma dureza extrema, venho aqui, a exemplo dos meus colegas de Direção e sócios, promover o vosso voto para o resultado de um procedimento disciplinar que, no fundo do meu ser, entendo como, em primeiro lugar, injusto. Tinha escrito um texto longo. Muito longo. Entendia que tinha de explicar aos aqui presentes todas as minhas razões. Mas esta semana percebi várias coisas. Em primeiro lugar, como pessoa de consciência tranquila e com orgulho de tudo o que tenho feito na minha vida pessoal e profissional nunca poderia dizer que me arrependo de qualquer ato feito ou omissão concedida. Percebo cada vez mais o que Ortega y Gasset quis dizer quando afirmava ser o Homem e a Sua Circunstância. E essa é a minha realidade no Sporting. E importa em primeiro lugar eu saber qual o meu lugar, e de muitos dos meus colegas, na História que ajudámos a construir.
Também estou consciente que a História é escrita pelos vencedores. E os vencedores ocasionais ou fortuitos nela não ficarão. O que me deixa descansado é que o Sporting tem sido sempre o vencedor, apesar de tudo, ou por tudo o que tem passado já na sua longa História.
Assim, digo a quem me quer ouvir, para poder tomar uma decisão, que foi um imenso orgulho ter desempenhado as funções de Vice-Presidente do nosso Clube. E como não sou pessoa de me arrepender, sinto que cumpri com aquilo com que me comprometi até ao fim.
Neste momento, em que vejo aqui pessoas que muito respeito, gostaria de enviar um abraço ao sócio do Sporting que, neste momento complexo, entendo que tem desempenhado o papel que gostaria que todos os Sportinguistas desempenhassem – o Professor Eduardo Barroso. Obrigado por continuar a ser a luz que me tem trazido algum conforto nesta escuridão que me confunde e calculo que confunda muitos outros sportinguistas, e não só.
Mas só para fazer uma breve história do processo, que foi isso que aqui me trouxe, gostaria de recuperar essa semana horrível com um dia 15 de maio que não irei esquecer. Para o que aqui nos traz hoje relembro o comunicado que o Conselho Fiscal, presidido pelo Dr. Nuno Silvério Marques, emitiu no dia 17 de maio. Nesse comunicado, onde os membros do órgão confirmavam a sua demissão, afirmavam na sua maioria entender que o Conselho Fiscal e Disciplinar não tinha competências estatutárias para proceder a qualquer tipo de ação política (entenda-se, disciplinar) contra membros do Conselho Diretivo. E da mesma forma que a Mesa da Assembleia Geral se manteve em funções apesar da sua demissão generalizada, nada impedia que o Conselho Fiscal também assim ficasse. Pois, como me foi transmitido por alguns membros desse Conselho Fiscal, eles foram instados a proceder a processos disciplinares contra os membros do Conselho Diretivo. E eles não o aceitaram. Daí a terem sido, no meu entender, destituídos e sido nomeada uma Comissão de Fiscalização constituída na sua maioria por pessoas que já tinham manifestado publicamente o seu desagrado foi um ápice. Tendo tido a oportunidade de ler a entrevista dada ao Jornal Sporting pelo atual Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar, legitimamente eleito nas últimas eleições, penso que a mesma encerra algumas ou mesmo muitas imprecisões (como por exemplo a menção da obrigatoriedade de substituição de um Conselho Fiscal e Disciplinar que, manifestamente, pela leitura dos Estatutos não existe) e que as analogias feitas aos poderes executivos se devem mais a questões do foro da Magistratura do que com a realidade do Sporting Clube de Portugal. Se tiver a vontade de me ouvir em particular, também gostaria de lhe transmitir a minha visão. Para não ficar só com a visão e opinião dos que escreveram a História recente.
Ponto 1
Sei, (porque sei!), que o ato de nomeação desta Comissão e o trabalho posterior por esta desenvolvido foi imoral e que o seu comportamento tendencioso e manipulador prejudicou o Sporting e sócios do Sporting Clube de Portugal. E que continua a prejudicar pois ainda me aguarda a conclusão de um processo que, curiosamente, se encontra nas mãos do atual Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar. Nas suas mãos e dos seus colegas, estou entregue. De novo…
Ponto 2
O processo disciplinar, para além de tendencioso teve um conjunto de incumprimentos explícitos do próprio regulamento disciplinar. Em resumo: não me foram transmitidas as penas de cada um dos atos individuais de que fui acusado; não identificam os factos provados e não provados; não têm em consideração os serviços prestados ao Clube como atenuante; não se ouviram testemunhas relevantes; ou seja, tudo foi feito para cumprir um desígnio político de um conjunto de pessoas que, tão somente, deveriam ter logo promovido a eleição de dois órgãos demissionários e que, do alto do seu descontrolo emocional não conseguiram cumprir os valores de desapego e independência que deveriam ter.
Ponto 3
Factos: Sou acusado de ter criado órgãos que não existiam estatutariamente. O que se fez, foi criar um mecanismo que a lei permitia (e para isso nos sustentámos em dois pareceres jurídicos) e que contrariamente ao afirmado não foi contra os Estatutos porque os Estatutos não o proíbem, e que pudesse fazer cumprir o que estava a faltar ao Sporting num momento importante da sua vida operacional e financeira, ou seja:
1) agendamento de uma AG extraordinária pedida pela Direção logo a seguir aos acontecimentos de Alcochete, conforme os Estatutos;
2) Marcação das eleições para os dois órgãos demissionários, conforme os Estatutos;
3) Marcação de AG também para apresentação e aprovação do orçamento, em conformidade também com os Estatutos.
Assim, resumindo este ponto 2, em nenhum momento quis ou quisemos criar órgãos que lesassem o Sporting. Fizemo-lo para cumprir a lei, respaldados por pareceres legítimos.
No entanto, uma providência cautelar instaurada e aceite por um juiz (noto: uma 2ª providência pois uma anterior foi indeferida) foi recebida e foi por nós cumprida a 100%. Todas as solicitações cumpridas e todos os pagamentos efetuados, com assinaturas minhas e do Presidente da Direção. Portanto, não compreendo a que se refere a referida obstaculização. Não o percebi durante o processo. Não o percebo ainda hoje, quando a AG foi um sucesso em termos de organização. E não adianta dizer que eu e outros meus colegas invadimos a AG pois estávamos formalmente autorizados pelo Presidente da MAG e pela própria Comissão de Fiscalização. E entrei por onde entrei por indicações da segurança do evento. Tudo isto que refiro neste meu ponto 2 foi referido, por escrito e pessoalmente, frente a um instrutor, o Dr. António Paulo Santos, advogado, que também já publicamente tinha escrito contra a Direção do Sporting e que não se coibiu de fazer a figura de uma conferência de imprensa num hotel na altura das eleições, como cadeia de transmissão de números falsos, e que, esses sim, prejudicaram um processo de Empréstimo Obrigacionista que tinha de ser feito e que acabou, apesar de tudo, por ser um sucesso.
Ponto 4
Utilização de meios do Clube para comunicações e divulgação de reuniões – sem perder muito tempo, aqui nada mais fizemos que divulgar uma ata elaborada por pessoa independente, sendo de notar a não aceitação da gravação de uma reunião importante por parte do Presidente da Mesa e de alguns (não todos!) membros da Mesa da Assembleia Geral e de alguns também do Conselho Fiscal (que àquela data ainda não tinha sido substituído pela Comissão de Fiscalização).
Estes são os argumentos óbvios e que me dão toda a legitimidade para estar aqui hoje (como gostaria de ter sempre estado, nas AG’s e ao vosso lado no Pavilhão João Rocha). Mas mais digo. Vivemos tempos da chamada pós-verdade, goste-se ou não. E quero aqui apresentar factos que são os que deveriam ter sido também relevados no processo e que, aqui pretendo ajudar a desconstruir face às ideias que se vão escrevendo, e mal:
1. 1º Facto: Nunca assisti a tanta informação interna a sair para a praça pública, como desde o final de Junho deste ano; e o que me choca é a alarvidade das mentiras e das notícias capciosas; importa que todos nós, mas todos mesmo, incluindo a Direção, a quem compete a defesa intransigente dos direitos do Sporting, que o defendam, pois tudo isto, em primeiro lugar prejudica o Sporting Clube de Portugal;
2. 2º Facto: A Direção a que tive a honra de pertencer foi a única, repito, a única que, desde o mandato de João Rocha, não apresentou prejuízos; Ficámos a zero na soma dos resultados de todos os anos em que estivemos efetivamente em funções; posso dizê-lo após a aprovação das contas de 2017/18 que apresentaram um resultado no Clube de cerca de 2M de euros;
3. 3º Facto: a auditoria que está a decorrer não é uma auditoria forense (o que quer que queira dizer) mas sim a auditoria de gestão que foi aprovada na Assembleia Geral do passado dia 3 de fevereiro por grande parte de vós. E tem, em princípio, um caderno de encargos similar aos das anteriores Auditorias de Gestão. Aguardemos todos os resultados. E aguardemos que os sócios os leiam. Já agora, o meu louvor ao Fernando Carvalho, aqui presente, que foi o único sócio do Sporting que dedicou muito tempo da sua vida a ler a integralidade das auditorias já feitas. E que irá ler esta com certeza. E que não se eximirá de me fazer as críticas que achar justas.
4. E já agora aproveito para esclarecer alguns aspetos que alguns têm querido trazer à baila tentando prejudicar esta minha e nossa defesa, e que não tendo nada a ver com o que hoje se está a discutir, a prejudica, obviamente. Então:
a. Na passada 3ª feira somos capa de um jornal que dizia que tirámos meio milhão ao Sporting. Lendo o artigo não se percebe nada; propositadamente. Mas esclareço, o valor mais relevante da notícia é de uma garantia bancária que o Sporting, através da Direção, executou, pois entendia que tinha sido prejudicado nalguns aspetos da obra de construção do Pavilhão João Rocha. São cerca de 375 mil euros que reverteram para o Sporting e para mais ninguém. Aliás sei que o atual Vice-Presidente do Sporting com o pelouro do Património já conhece muito bem o processo da construção do Pavilhão e das questões pendentes. O restante, devem ter sido pagamentos normais, como muitos foram feitos ao longo dos mais de cinco anos em que fui responsável pelas Finanças do Grupo Sporting. Fazendo contas por baixo, nestes anos devemos ter feito pagamentos a rondar os 600 milhões de euros. É perfeitamente inaceitável que se lance isto para o espaço público prejudicando, em 1º lugar o Sporting.
b. Sobre o escritório de advogados que se tem vindo a falar constantemente, posso dizer que foi o escritório que mais trabalhou com o Sporting no dia a dia. Trabalhou nos processos cíveis mais relevantes interpostos contra terceiros e fazia o pesado acompanhamento fiscal do Grupo. Para perceberem, fundamentalmente trabalhávamos com este escritório e com a Cuatrecasas que colaborou nas auditorias de gestão anteriores e nos empréstimos obrigacionistas. Nada mais. Os valores que se falam, divididos por 5 anos de atividade não fogem de valores normais. Tudo o resto são pós-verdades, construídas sobre coincidências, e vontades de criar suspeitas indevidas. Mas acima de tudo, aproveito para destacar a competência destes advogados que connosco trabalharam e que julgo ainda trabalham para o Sporting.
c. Quanto a gastos com scouting e afins, aguardemos pela auditoria em curso. Mas se a notícia é que não há relatórios de scouting, então…. É pedi-los.
d. Obviamente que fico ao dispor, se a Direção ou o Conselho Fiscal o entenderem para prestar quaisquer explicações que sejam necessárias no âmbito da referida auditoria.
e. (e já agora, depois de também tanto ter ouvido de Fake News ou em Português, notícias falsas e mentirosas, ficou afirmado pelo atual Vice Presidente Financeiro do SCP e pelo próprio Presidente do Clube, que não há buracos nas contas, que não há dinheiro retirado da SAD para o Clube ou vice-versa, e portanto, faço votos que o orçamento agora aprovado, diga-se, praticamente igual ao que a Direção a que pertenci apresentou, cumpra aquilo para o que foi construído - mais títulos, como o de Campeão Europeu de Judo desta semana e para uma cada vez maior divulgação dos valores do Clube).
Ponto 5
Quase a terminar, reitero que nenhum dos membros da Direção foi condenado neste momento por qualquer facto; processos pode até haver, mas estar aqui neste momento a julgar ou querer de futuro condenar a expulsões qualquer sócio, como Elsa Judas ou Trindade Barros, é, se me permitem muito infeliz. Por muito mal comparado que seja, gostaria de vos alertar para o facto de os nossos adversários da Luz terem o poder disciplinar na Direção e não no Conselho Fiscal e só terem promovido a expulsão de um seu antigo Presidente quando ele foi efetivamente condenado, sem possibilidade ulterior de recurso; por curiosidade, o único membro dos órgãos sociais do Sporting que foi até hoje condenado de alguma forma, com ligação ao Sporting, obviamente, podendo é claro ainda apresentar recurso, foi o Comendador Jaime Marta Soares, num processo interposto pelo Eng. Godinho Lopes.
Quero concluir dizendo que cumpri o meu papel como órgão social do nosso Clube e de outras instituições do Grupo. Não peço, como nunca pedi, qualquer tipo de tratamento favorável ou privilegiado. Peço-vos agora que, fundamentalmente, tenham em consideração os meus atos em prol do Sporting neste processo em que pretendo que seja revertida uma decisão que considero, como vocês todos considerariam, injusta.
Quero aproveitar, porque não tive até hoje, oportunidade, para agradecer a todos os funcionários e colaboradores com quem tive o prazer de trabalhar. Agradeço terem feito a minha vida mais fácil e peço que me desculpem se tornei a vossa mais difícil. Vocês são uma das razões pelas quais o Sporting se mantém, sempre forte e resiliente.
E quero finalizar num tom mais rebelde dizendo que não aceito qualquer tipo de afirmação sobre a lei de Talião, do olho por olho, dente por dente. Que nos fazem a nós aquilo que fizemos a outros. Julgo que aqui, neste momento, é importante dizer que a Direção do Sporting a que pertenci não fez qualquer pedido de Processo Disciplinar contra ex-Presidentes. Inclusivamente, e os anteriores membros do Conselho Fiscal do Sporting, alguns aqui presentes, podem confirmá-lo: eu e o Presidente Bruno de Carvalho apresentámos as nossas alegações para que o Conselho Fiscal e Disciplinar, presidido pelo Professor Jorge Bacelar Gouveia não expulsasse o Eng. Godinho Lopes. Fizemo-lo, pois entendíamos que deveria haver alguma tolerância e que a história da altura, de agora e futura, seria escrita avaliando o que de mau e bom qualquer Presidente fez. Sei que a história honrará os mais de 5 anos em que os membros que hoje estão aqui a ser “julgados” estiveram no Sporting, independentemente da vossa decisão. Assim como honra hoje o Presidente João Rocha que há mais de 30 anos saiu também de Presidente, debaixo de críticas (até de alguns de vós que hoje aqui estão). Lembro também as críticas que ele sempre fez ao Projeto Roquette e sempre que sentia que os valores que defendia não estavam a ser cumpridos. E isso não o fragiliza aos meus olhos. Muito pelo contrário.
Sei que hoje sou por um Sporting plural. Que aceita as opiniões e até as divisões. E que é desta realidade, muito diferente da dos nossos adversários, que se faz um Clube que é o maior do Mundo.
Humildemente vos peço. Sem mágoas. Com espírito leonino. Queiram por favor votar favoravelmente este meu recurso.
E Viva o Sporting Clube de Portugal.
Obrigado."
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