Acabou-se o circo!?

A conferência de imprensa de passada sexta-feira terá deixado muitos Sportinguistas a pensar sobre a liderança do clube, os seus dirigentes, o rumo que estamos e seguir e o futuro do clube. Muito foi dito nessa conferência de imprensa, razão pela qual um só post não chega para analisar todas estas matérias. Aqui fica o primeiro post.

O contexto

A conferência de imprensa foi agendada no dia 16 de Fevereiro (sábado), através de comunicado publicado no site oficial do Sporting (aqui). O contexto em que foi anunciada não era o melhor, uma vez que o Sporting vinha de uma vergonhosa derrota caseira com o Villarreal e de uma série de maus resultados e exibições. No final dessa partida os Sportinguistas fizeram-se ouvir, como se pode ver de seguida:

Na altura estávamos a 7 pontos do 3º classificado e com um pé fora da Liga Europa frente a uma equipa medíocre como é este Villarreal. Se dentro do campo as coisas não estavam a correr bem, fora do campo não estavam melhores, com as saídas a custo zero de dois jogadores importantes para o plantel e para os sócios, como eram Nani e Montero.

Portanto, é num um contexto de crise - mesmo que milagrosamente a imprensa nunca o tenha assim classificado - que o conselho directivo do Sporting marcou a conferência de imprensa de dia 22 de Fevereiro. É importante recordar isto para se perceber o ponto de partida. 

Gestão silenciosa

Sinceramente, quando li o comunicado que anunciou a CI a referir-se a uma "gestão silenciosa", fiquei claramente com a ideia que o conselho directivo iria apresentar nessa CI os resultados dessa tal gestão silenciosa. De facto, a expressão foi bem escolhida, até porque os Sportinguistas não sabem o que andam estes senhores a fazer com o clube, tirando a parte de termos substituído um relvado sintético, tantas as vezes que essa obra de manutenção corrente já foi propagandeada como um enorme feito em prol do clube. 

Confesso que supus que entre outra coisas a CI serviria para apresentar novos dados sobre a reestruturação financeira. Uma matéria de extrema relevância e que até ao momento os Sportinguistas não ouviram uma única palavra. Também pensei que iriam ser apresentadas novas propostas aos sócios para o desenvolvimento do clube. A realidade é que não podia estar mais errado. 

Os temas abordados

Frederico Varandas e seu pares decidiram dividir esta conferência de imprensa em 5 partes distintas: Auditoria, Finanças, Futebol Profissional, Futebol de formação e Organização. Nos próximos dias vou fazer uma série de posts a analisar as questões mais relevantes sobre o que foi dito, mas para já quero apenas fazer uma análise genérica sobre a Auditoria. Aqui vai:

Até às últimas consequências

Para que fique claro, começo desde já por fazer uma declaração de voto favorável a que os resultados da auditoria sejam entregues ao ministério público e para que os dirigentes do Sporting intentem todos os processos que entendam ser úteis ao apuramento da verdade. Quero ver este processo avançar na justiça até às últimas consequências, para que esta nuvem negra desapareça do horizonte leonino. A justiça decidirá se deve punir ou ilibar os ex-dirigentes. O mais importante é que se faça justiça para se colocar um ponto final no assunto. No fundo, tudo o que também defendi nas outras auditorias feitas nos últimos anos.

Uma decisão ilegítima por parte da Comissão de Gestão

Eu sei que sou sempre o mesmo chato, mas para começo de conversa tenho de relembrar que a execução da auditoria foi deliberada pela comissão de gestão. Algo que por si só é inaceitável, uma vez que estes senhores não foram eleitos e os sócios não se pronunciaram sobre a matéria. Para além de terem deliberado sobre algo para o qual não estavam legitimados, a CG fez ainda algo pior. A nomenclatura utilizada para definir a auditoria foi absolutamente vergonhosa e que é em si mesmo um veredicto sobre os antigos órgãos sociais. Designar a auditoria como "forense" é uma nojice que não só cria um estigma de culpa sobre os ex-dirigentes do Sporting, como também lança o nome do clube para a lama. Relembro que nas auditorias feitas nos últimos anos foi sempre utilizada a designação de "auditoria de gestão".

E não me interpretem mal. Eu sou sempre a favor de auditorias aos mandatos dos presidentes do Sporting, mas eu não represento os sócios do Sporting. Só depois de serem chamados a se pronunciarem é que se podem tomar decisões desta relevância, até porque a "brincadeira" não sai nada barata. Mantendo-me firme na convicção de que devem haver auditorias a todas as lideranças, lanço já o desafio para que também se faça uma auditoria aos meses em que a comissão de gestão liderou o clube. Parece-me mais do que justo. Mas uma auditoria de gestão e não uma auditoria forense. Uma coisa digna dos valores leoninos e sem ponta de revanchismo. Talvez assim os sócios possam também perceber, entre outras coisas, como é que a empresa responsável pela auditoria forense foi escolhida e quais os custos deste serviço.

Lavar de roupa suja em público

O que se disse no auditório Artur Agostinho relativamente à auditoria foi uma vergonha inqualificável para o Sporting. O Presidente Frederico Varandas arrogou-se no direito de falar sobre uma auditoria que nem sequer está concluída, insinuando uma série de questões e até trazendo relações familiares para a conversa. Decidiu trazer o assunto para a praça pública quando o deveria ter feito em sede de AG, por forma a que os sócios pudessem questionar as diversas matérias e os visados tivessem oportunidade de responder. Aliás, ainda em fase de auditoria os visados deveriam ser solicitados a dar explicações ao Sporting e aos auditores. Foi isto que aconteceu com as auditorias feitas no mandato de Bruno de Carvalho.

Dou como exemplo o que foi feito em relação à auditoria de gestão de Godinho Lopes. Os sócios ficaram a conhecer os resultados da auditoria no dia 5 de Outubro de 2014, em sede de Assembleia Geral. Ao contrário do que já vi algumas pessoas referirem, essa Assembleia Geral não teve sequer a transmissão do discurso inicial do presidente do CD. Tudo foi tratado dentro de casa e à porta fechada, sendo apenas permitido aos órgãos de comunicação social filmarem a sala antes da reunião magna principiar.

A roupa suja deve lavar-se dentro de casa e foi isso que foi feito na altura. Obviamente, a imprensa tem sempre relatos do que acontece nas AG´s, mas a repercussão do que lá é dito é muito menor não havendo imagem ou documentos tornados públicos. De seguida deixo-vos com as capas dos jornais desportivos do dia seguinte à AG de auditoria ao mandato de Godinho Lopes.

Capas jornais desportivos dia seguinte auditoria do período de presidência de Godinho Lopes

Como podem verificar, os jornais deram apenas uma nota de rodapé às deliberações tomadas em AG. O jornal Abola chegou mesmo a nem sequer meter a notícia na sua capa. Basta olharmos para as capas do dia seguinte ao da CI da passada sexta-feira para percebermos as diferenças. Por um lado temos umas notas de rodapé sem nenhum caso particular, numa AG em que 92% dos sócios decidiram a aprovação de processos contra a direcção de Godinho Lopes. Do outro lado temos capas inteiras cheias de casos - apontados pelo próprio presidente do Sporting - de uma auditoria que não está concluída, que não foi ratificada pelos sócios de nenhuma maneira, de algo que não foi debatido pelos sócios em AG e sem que tenha sido dada sequer oportunidade aos visados de se justificarem perante os sócios ou auditores. Para além da conferência de imprensa, o Sporting publicou no seu site uma espécie de documento sobre esta matéria para ficar para a posteridade. Desculpem lá, mas alguém acha isto normal?

Julgamento antecipado

Provavelmente os Sportinguistas não sabem, mas para uma colectividade intentar processos judiciais contra antigos administradores por actos praticados no exercício das suas funções, é necessário que isso seja deliberado em Assembleia Geral da Sociedade, de acordo com o artigo 172ª do código civil.

Obviamente, lançar estes assuntos na praça pública desta forma faz com que se gere uma sentimento evidente de condenação dos antigos dirigentes que é impossível de controlar pelos visados. Ninguém terá dúvidas que no dia em que os sócios forem chamados a se pronunciar sobre esta matéria aprovarão com grande maioria os processos aos ex-dirigentes. Lançar este tema na praça pública fazendo dele um julgamente popular não prejudica só o nome dos visados, mas também o nome do Sporting Clube de Portugal. É triste perceber que o CD não percebe isto.

É preciso ter lata

Para além de todos os factos enumerados anteriormente, o Presidente Frederico Varandas teve ainda a lata de dizer que a auditoria era da competência do Conselho Fiscal e Disciplinar, minutos depois de se ter substituído a esse órgão social do Sporting dando informações que deviam estar sob sigilo até à conclusão da auditoria. Absolutamente surreal. 

Frederico Varandas podia ter perfeitamente falado da auditoria sem revelar o seu conteúdo, até porque existem uma série de questões que os sócios gostariam de ser informados sobre esta matéria. Desde logo, se existiu ou não um concurso para escolha da auditora? E já agora quando custou esse serviço? Também era interessante perceber porque é que a auditoria ultrapassou todos os prazos previstos? Não existem cláusulas temporais no acordo de que o Sporting se possa valer face à incapacidade da auditora cumprir os prazos?

Assim que estivesse concluída a auditoria, a mesma teria de ser enviada para análise do Conselho Fiscal e Disciplinar para análise e recomendação. Depois disso, a MAG deveria marcar a AG para apresentação de resultados aos sócios, convidando os visados para poderem esclarecer os Sportinguistas. Isto sim, seria um procedimento à Sporting, respeitando o Sporting, os seus diversos órgãos sociais e os sócios do clube.

Acabou-se o circo!?

Termino recordando o início do post. Quando o Sporting está em crise de resultados e com o treinador e o presidente sob forte contestação, o CD do Sporting teve a brilhante ideia de fazer um conferencia de imprensa, que mais não foi do que um chorrilho de desculpas e um ataque constante ao bom nome do Sporting, aos seus profissionais, aos seus antigos dirigentes, ao seu património e a determinados grupos de sócios. Que fique este episódio para memória futura da forma como o Presidente Varandas reagiu à contestação, desviando o foco para antigos dirigentes e arranjando desculpas, quando deveria ter anunciado soluções. 

Se o clube estivesse a ser liderado por gente que tem em mente os superiores interesses do Sporting, ou pelo menos os interesses do Sporting acima de um revanchismo patético, esta conferencia de imprensa nunca teria acontecido nestes moldes. Eu recordo que em Outubro o Presidente Frederico Varandas disse: "há muitas pessoas que estão habituadas ao Sporting ser um circo, um produto televisivo de chacota, mas esse tempo acabou". Depois de todas as horas que se gastaram nas televisões depois da CI, depois de todas as linhas que se escreveram nos jornais, nas redes sociais e na blogosfera, depois dos já vários bate-boca que vieram na comunicação social (e prometem continuar nas próximas semanas) acham mesmo que o circo acabou? 

Enfim, estranha forma esta de unir o Sporting...

Podem seguir o blog nas redes sociais nos links seguintes:

Facebook: (aqui)  Twitter: (aqui) Instagram: (aqui)