Declaração de voto

Como habitualmente, aqui fica a minha declaração de voto na véspera do acto eleitoral. 

O acto eleitoral de amanhã tem características muito próprias e sobre as quais é preciso reflectir, nomeadamente as problemáticas mais prementes. 

Situação interna do clube

Pela primeira vez na história tivemos um presidente destituído pelos sócios. Falamos de um presidente eleito com cerca de 90% dos votos dos sócios em 2017 e que em Março deste ano tinha ganho uma AG com valores semelhantes.

Serve esta ideia inicial para demonstrar que nada apontava para uma eventual queda dos órgãos sociais do Sporting. Ainda para mais, numa altura em que faltavam cerca de 3 anos para o término do mandato. 

É importante que os Sportinguistas percebam que o inesperado da situação dificulta imenso o aparecimento de projectos realmente interessantes, com gente escolhida com calma e ponderação e sobretudo não permite que as pessoas que querem vir para o Sporting preparem a sua vida para tomarem essa decisão. Já pensaram na quantidade Sportinguistas com capacidade para servirem o clube, mas que não tiveram a possibilidade de concorrer pelo inesperado da situação e por não terem conseguido resolver a vida familiar e profissional em tempo útil? 

Toda estas limitações não acontecem quando existe data marcada para as eleições e os mandatos são cumpridos até ao fim. 

Continuidade pela estabilidade financeira

Logo na altura do ataque na Academia defendi que Bruno de Carvalho deveria ceder o seu lugar a Carlos Vieira para este continuar o projecto. Não foi esse o entendimento do Conselho Directivo e os elementos do CD acabaram por ser destituídos. Já o disse publicamente e repito: Não concordo com os castigos aplicados pela comissão de fiscalização aos membros do CD e caso Bruno de Carvalho e Carlos Vieira estivessem aptos para irem a eleições, votaria em Carlos Vieira. Já expliquei esta opinião (aqui). 

Fartei-me de falar na importância do fecho da reestruturação financeira que permitiria ao Sporting ficar com 90% do capital da SAD e dar definitivamente um pontapé no rabo à Holdimo, que nem direito a administrador da SAD teria. Carlos Vieira garantiria essa questão fundamental da vida do Sporting e a sua equipa manteria o clube a funcionar nos mesmos moldes. 

Infelizmente, a comissão de fiscalização decidiu tirar todos os elementos do Conselho Directivo anterior da jogada, não permitindo nenhum tipo de continuidade à frente dos destinos do clube. Todos os dossiers passarão agora para mãos de gente que não esta dentro dos assuntos.

Tantos candidatos

O facto de existirem tantos candidatos é exemplo claro de duas coisas: 

1) completa desunião no seio dos sócios, que estão divididos em facções;

2) sinal evidente do não aparecimento de uma lista verdadeiramente credível.

Se tivesse aparecido uma lista verdadeiramente abrangente e capaz de agregar os Sportinguistas teríamos condições para um nova liderança forte e com capacidade para liderar o clube nos próximos anos. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. E isso deve-se também ao que fui dizendo em cima sobre a falta de tempo para preparar um projecto verdadeiramente vencedor e com gente de enorme valia. Posto isto, considero que todas as listas são fracas e há muita gente que não interessa ao Sporting em todas elas. No fundo, concordo absolutamente com a definição do tal "mal menor" que tanto tem sido debatida entre os sócios do Sporting.

O que é certo é que chegamos a este ponto com 6 candidatos e há que fazer uma escolha. E aqui parece-me mesmo que é importante que os Sportinguistas votem e escolham a candidatura que acham que é melhor para o Sporting.

Será que o próximo presidente chega ao final do mandato?

É importante que os Sportinguistas não tenham medo de se questionarem sobre isto. Desde logo, recordar que de acordo com os estatutos este mandato será mais curto do que o habitual, uma vez que as eleições serão realizadas fora do período consagrado nos estatutos. 

Recorda também que os últimos 3 presidentes viram os seus mandatos serem interrompidos antes do termino (JEB, GL e BdC), por isso é bastante provável que aconteça o mesmo. Basta para isso percebermos uma série de situações que nos levam nesse caminho:

1) Nenhum candidato conseguirá ter um resultado maioritário nestas eleições;

2) As sondagens apontam para que o candidato vencedor consiga um resultado na casa dos 30%. Portanto, 70% dos sócios não validarão o projecto do novo presidente. Estamos a falar de valores na casa dos que foram obtidos na destituição do Conselho Directivo. 

3) Do rol de candidatos é possível verificar que dentro dos favoritos existem taxas de rejeição enormes. Qualquer que seja o Presidente nunca irá convencer uma franja significativa dos sócios dos seus méritos e nunca terá a devida paz. Não adianta pensarmos que o benefício da dúvida será dado agora quando nunca foi dado a nenhum presidente. Infelizmente, está no nosso ADN.

4) Falamos de um clube historicamente desunido e com muitos problemas internos que advêm de uma série de grupos, grupinhos e grupetas. 

5) Falamos de um clube que não ganha o campeonato nacional de futebol sénior masculino há 16 anos e a pressão está sempre lá. Sempre! 

Há que reconhecer que o aspecto não é animador. 

Focos de acção

Face a tudo isto, considero que o próximo presidente do Sporting será um presidente de transição para um presidente com um verdadeiro projecto de futuro para o Sporting. Um projecto que pode e deve começar a ser pensado desde já para que no momento certo possa ser apresentado aos Sportinguistas. Momento "certo" que pode ser antecipado, com julgo que irá acontecer. Não é o meu desejo, mas não acredito em milagres. É hora de os inúmeros sócios do Sporting com capacidade saírem da sua zona de conforto e comecem a pensar em projectos e equipas verdadeiramente credíveis para liderarem o futuro do clube. Fica o apelo. 

Relativamente às áreas principais de actuação de um conselho directivo: As modalidades têm esta época perfeitamente planeada e acredito que os excelentes resultados irão continuar. Seria muito difícil ver uma direcção destruir o que de tão bem foi feito. Em termos de infraestruturas e comunicação parece-me que serão áreas pacíficas de actuação. No futebol acredito que o Sporting precisa de alterar essencialmente a sua política na formação. No futebol sénior o plantel é competitivo mesmo faltando o tal ponta de lança e o defesa esquerdo. Em termos gerais é preciso contratar menos e bem, aproveitando sempre o talento da nossa formação. 

Voto 

Como considero que nenhum dos actuais candidatos tem todas as capacidade necessárias para ser presidente do Sporting, penso no curto prazo e nas vertentes que considero mais importantes. Neste sentido há três pontos fundamentais que têm de ser já resolvidos e que não adicionei na primeira fase de análise: A coesão interna, a política externa e a vertente financeira. 

Desde o dia em que fecharam as candidaturas que a minha intenção de voto só poderia passar por dois nomes: João Benedito ou Dias Ferreira. Olhando para estes três vectores de actuação que considero fundamentais no curto prazo, decidi votar em Dias Ferreira. E passo a explicar:

Coesão interna:

O Sporting é um clube com muitas sensibilidades, com muitos grupos, grupinhos e grupetas, com muitos interesses e onde há muita política diária em torno da liderança do clube. O Grupo Stromp, os cinquentenários, os leões de Portugal, etc. Se há alguém que conhece tudo isto é Dias Ferreira que faz parte de muitos destes grupos, já fez partes dos órgãos sociais de João Rocha e de José Eduardo Bettencourt e tem uma experiência absolutamente avassaladora nas "politiquices" do Sporting. Não há sequer comparação com a experiência de Varandas e Benedito. As sensibilidades, as facções ou o que lhe queiram chamar são todas conhecidas por Dias Ferreira. E aqui até valido algo que é muito criticado pelos Sportinguistas, inclusivamente por mim, em relação a Dias Ferreira. O tal "contorcionismo" de estar bem com toda a gente e com o poder vigente. É altura de o utilizar a favor do Sporting. Se há candidato que pode agregar toda esta gente é Dias Ferreira. 

E depois há outra questão fundamental em relação a esta matéria. Dias Ferreira já garantiu aos sócios que só fará um mandato e que depois dará o lugar a outro. Também salientar que foi o único candidato a propor uma segunda volta eleitoral para que o presidente eleito tivesse uma maior legitimidade. Não deixa de ser interessante que todos os outros candidatos tenham recusado a proposta. 

Política externa: 

Ainda Benedito e Varandas andavam de fraldas já Dias Ferreira andava nos meandros do futebol. Foi director do futebol do Sporting nos anos 80, foi representando do Sporting na Liga nos anos 90 e esteve na criação da Liga, na origem da criação do Conselho Nacional do Desporto, etc. Como temos visto recentemente, se há coisa que não parece ter mudado é o modus operandi do futebol português. Coisa que Dias Ferreira conhece como muito poucos. 

Nos próximos meses haverá fortes desenvolvimentos nessa área e Dias Ferreira é de todos os candidatos o homem com mais experiência e competência - até profissional - para lidar com estes casos. Só a termo de exemplo, Dias Ferreira já se tinha constituído assistente de vários processos que correm na justiça contra o Benfica. Relembrar que na própria Liga haverão várias matérias de interesse que é necessário que o Sporting consiga salvaguardar. Um dos principais pontos positivos da sua campanha foi a assertividade com que falou sobre essas matérias. 

Finanças: 

Olhando para as competências dos gestores financeiros das outras listas só me dá mesmo vontade de rir, para não chorar. Na lista de Benedito temos Ricardo Andorinho para responsável financeiro e na de Frederico Varandas temos um miúdo de 35 anos que toda a experiência profissional que tem é na banca. Já para não falar de José Maria Ricciardi, mago da alta finança. Quando Carlos Vieira se apresentou como apoiante de Dias Ferreira, disponibilizando-se para ajudar a fechar o acordo de reestruturação financeira, a minha opção ficou definitivamente fechada. Quem acompanha o blog, sabe que para mim este é ponto de honra. Quero ver esta reestruturação financeira fechada o mais rápido possível. Nesse sentido não há melhor para tratar do assunto do que um dos responsáveis pela mesma. 

Nota final

Sinceramente, nunca pensei ver chegar o dia que tivesse de votar em Dias Ferreira para ser presidente do meu clube. Não o faço com a profunda convicção que dará um enorme presidente, mas faço-o com a profunda convicção que é bem melhor do que os restantes candidatos. 

Para terminar faço um apelo para que os sócios compareçam nas eleições e exerçam o seu direito de voto. Que vença o melhor e que no dia 9 estejamos todos do mesmo lado da barricada em defesa do nosso clube. 

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