Chantagista, ditador e facebookiano

Quer-me parecer que as pessoas ainda não se aperceberam que o Sporting vive um dos momentos mais importantes da sua história. Enquanto sócio quero fazer uma reflexão sobre tudo o que tem acontecido no clube nos últimos dias e perspectivar a AG do próximo Sábado. 

Na passada segunda-feira Bruno de Carvalho colocou o seu lugar à disposição dos sócios, através da realização de uma nova AG. Na reunião magna a realizar no próximo sábado estarão 3 pontos na ordem de trabalhos:

Convocatória AG (aqui)

Mais uma vez é importante salientar que para estes pontos serem aprovados são necessários pelo menos 75% dos votos dos associados presentes na Assembleia Geral. Estes 3/4 decorrem de uma obrigação estatutária. Se algum destes pontos não for aprovado pelos números necessários, os órgãos sociais do Sporting pedem de imediato a demissão e vamos para eleições antecipadas.  

De lá para cá têm sido muitos os opinadores e alguns Sportinguistas a acenarem com "argumentos" na linha de: "é um chatageador", "é um ditador que se quer perpectuar no poder" ou "passa a vida no facebook e não faz nada". Vamos então reflectir sobre cada um deles.

O chantagista 

A narrativa do "chantagista" vai no sentido de o Presidente estar a utilizar uma eventual demissão como meio de pressão para conseguir fazer aprovar os estatutos e o regulamento disciplinar. Neste sentido há duas questões que os Sportinguistas devem colocar.

A continuidade de Bruno de Carvalho é garantida?

Não, de modo algum. Como já disse anteriormente, acredito que a probabilidade de Bruno de Carvalho sair é maior do que a de ficar. E passo a explicar. Desde logo é preciso recordar que as abstenções contam para este efeito como votos contra. Bruno de Carvalho lutará contra a abstenção e contra os votantes contra. 

Se nesta votação entrassem todos os Sportinguistas, o presidente leonino esmagaria. Se nesta votação votassem todos os sócios do clube, Bruno de Carvalho também não teria problemas. Agora, numa Assembleia Geral, tudo vai depender das pessoas que estiverem presentes. Neste sentido há aqui questões importantes a considerar. Esta será uma oportunidade única de os tais "Sportingados" conseguirem tirar Bruno de Carvalho do poder, razão pela qual estarão muito mobilizados. Para além disso, têm a vantagem de sere praticamente todos da zona de Lisboa, o que facilita as coisas. É também importante dizer que muitos destes contestatários são sócios com alguma antiguidade, razão pela qual têm mais votos. São três pontos importantes que dão alguma vantagem aos "Sportingados".

A oposição/abstenção precisa de ter apenas 25,01% do votos para conseguir derrubar os órgãos sociais. Nas últimas eleições do Sporting votaram 18755 sócios. Num universo tão grande, cerca de 14% dos sócios não votaram em Bruno de Carvalho. Ora, estes 14% de "contestatários" repercutidos num universo de votantes muito menor pode ter uma enorme força e chegarem mesmo aos 25,01%. 

Para Bruno de Carvalho conseguir aprovar os 3 pontos da ordem de trabalhos é preciso que a assembleia geral tenha uma adesão extraordinária. Só uma sala completamente esgotada pode manter os órgãos sociais no poder. 

Perante isto, eu pergunto: Como é que o acto de deixar nas mãos de uma minoria de sócios o seu destino pode ser considerado como "chantagem"? Chantagem do quê, quando existe a real possibilidade de estes órgãos sociais caírem!? Vejo Sportinguistas a comerem a propaganda dos rivais, sem perderem sequer um minuto do seu tempo a pensar. A pensar Sporting, amigos. Será que custa assim tanto? 

Vamos agora à segunda questão chave:

O ditador

As alterações estatutárias são assim tão importantes para Bruno de Carvalho? 

Claro que não. O próprio presidente disse isso no discurso de abertura da AG de dia 3, deixando nas mãos dos sócios a decisão. Infelizmente, Carlos Severino, Rui Morgado e Pedro Paulino não deixaram sequer a discussão começar. Mais em baixo darei a minha opinião sobre as motivações de Bruno de Carvalho para colocar o lugar à disposição dos sócios. Para já falemos das alterações estatutárias. 

Enquanto sócio não vejo grande relevância nestas alterações estatutárias. Parece-me que os tais "Sportingados" conseguiram gerar o pânico nas redes sociais nos dias que antecederam a AG de dia 3, passando a ideia que estávamos perante um golpe para perpectuar Bruno de Carvalho no poder. Ora, não é nada disso que se trata, senão vejamos:

As criticas às alterações estatutárias tem tido três focos distintos:

1) A extinção do Conselho Leonino: Algo que já estava no programa eleitoral de Bruno de Carvalho e com a qual concordo plenamente. Este órgão social não serve para absolutamente nada. Estes 50 cavalheiros não têm qualquer poder e a actividade anual passa apenas por fazerem reuniões antes da AG para falarem sobre o que lá será debatido. Com a extinção deste órgão o Sporting deixará de ter 50 business seats oferecidos a estes senhores, podendo daqui em diante a comercializa-los. Atenção que o actual conselho leonino ficará em funções até ao final do mandato (2021). E não me venham falar em oposição no concelho leonino quando a maioria dos conselheiros foi eleita na lista de Bruno de Carvalho. 

2) Eliminação do Método de Hondt para a escolha do Conselho Fiscal e disciplinar: O método de Hondt garante uma maior representatividade dos sócios no órgão, mas isso pouco ou nada significa, uma vez que a maioria é quem decide. Em que é o método de Hondt ajudou os Sportinguistas na altura em que Godinho Lopes levava o clube para o abismo com prejuízos acumulados de mais de 100 milhões de euros? Serviu de alguma coisa o método de Hondt? Foi o Conselho Fiscal e disciplinar a tirar Godinho Lopes do poder ou foi o movimento "Dar rumo ao Sporting"? Já se esqueceram? 

Muitos acusam Bruno de Carvalho de querer que os mandatos sejam atribuídos apenas à lista vencedora para poder disciplinar o clube. Ora, para quem ainda não percebeu, o actual Conselho Fiscal e disciplinar - eleito com método de Hondt - é composto na sua TOTALIDADE por elementos da lista de Bruno de Carvalho. Repito, TODOS!!! 

3) Punição para quem injuria e difama elementos dos órgãos sociais do Sporting: Mas qual é a dúvida nisto? Deve ser permitido aos sócios injuriarem e difamarem os dirigentes do Sporting sem que nada lhes aconteça? Enquanto cidadão não posso injuriar ou difamar outro sem consequências. Porque é que eventuais injurias ou difamações que sejam proferidas no âmbito de assuntos relacionados com o Sporting não devem ser punidas? É ditadura transportar a lei civil para os estatutos do clube? É isto o tal "calar da oposição"? Toda esta indignação dos "Sportingados" em relação a isto é um claro sinal do tipo de oposição que gostam de fazer: Injuriar, difamar e ofender. É isto que os Sportinguistas querem no clube? 

Nos estatutos está prevista a possibilidade de uma AG extraordinária para demitir os órgãos sociais. Basta reconhecerem as assinaturas e pagarem as despesas do acto em si e está feito. Isto é o que dizem os estatutos. E a questão do dinheiro para a AG nunca foi sequer questão com Bruno de Carvalho que desde 2013 tem dito que basta recolherem as assinaturas que o Sporting não cobrará nada para a realização da AG. 

Olhando para estes três pontos eu pergunto: Isto tem alguma coisa de especial? Onde é que está o tal pontinho nos estatutos que vai fazer com que Bruno de Carvalho fique no Sporting para o resto da vida? Vá lá, diga-me lá onde está isso.

O Facebookiano

Uma vez que podemos estar nos últimos dias de mandato de Bruno de Carvalho, gostaria que os sócios pensassem no trabalho realizado por esta direcção nos últimos 5 anos, até porque é isto que estará em causa na próxima AG. A principal critica está relacionada com os posts de Facebook de Bruno de Carvalho e com a linguagem utilizada. E neste ponto nem sequer vou discutir. Dou isso completamente de barato. Se a critica é esta vejamos agora o que deve ser elogiado.

Bruno de Carvalho encontrou um clube falido, com salários em atraso, sem património, sem grandes activos, com uma massa adepta completamente descrente, etc. Cinco anos depois, o Sporting está completamente transfigurado. Em termos financeiros foi efectuada uma reestruturação financeira de excelência que é invejada pelos rivais; passamos a ver a SAD e o clube  a darem lucro - única direcção desde a criação da SAD que consegue acabar um mandato com lucros acumulados;  enorme aumento do número de sócios e de assistências nos estádios e pavilhões; aumentamos o número das nossas modalidades em cerca de duas dezenas, com especial destaque para o regresso do hóquei em patins, ciclismo, voleibol e para as nossas queridas modalidades adapatadas, que são um enorme orgulho e que ainda ontem conquistaram o primeiro título europeu para um clube português; passamos a ser fortes candidatos aos principais títulos nacionais em todas as modalidades e todos os escalões; vimos nascer o Pavilhão João Rocha; pela primeira vez em décadas vimos o património do clube a crescer; vimos a Academia e estádio a serem remodelados; ganhamos 6 títulos internacionais em apenas 5 anos; etc

Entre o deve e o haver é fácil concluir que o trabalho feito por esta direcção tem sido absolutamente fantástico, apesar de uma ou outra questão de pormenor que causam algum tipo de irritação a alguns sócios, como a utilização do facebook. Concordando ou não com a utilização das redes sociais, isso é motivo para colocar em causa o resto do trabalho? Sinceramente, é motivo para tanto espectáculo? 

Militância, senhores

Olhando para tudo isto, os leitores perguntam: Mas o que é que o trabalho fantástico que foi desenvolvido no clube tem a ver com a aprovação dos estatutos? Tem tudo, meus amigos.

Quem fez tudo isto pelo nosso clube não merece no mínimo dos mínimos a confiança dos Sportinguistas? Confiamos em Bruno de Carvalho para nos tirar da falência e não confiamos nele para fazer umas alterações de merda nos estatutos? Nos dias que antecederam a última AG vi alguns Sportinguistas a criticarem as medidas propostas sem que tivessem perdido um único minuto a ler as alterações. Eu pergunto: Isto é Sportinguismo? Criticar por criticar sem ter o mínimo de noção do que se está a falar e embarcando nos bitaites de meia dúzia de palermas e dos rivais, é uma atitude de Sportinguista? Já dei a minha opinião sobre algumas destas alterações estatutárias em cima, razão pela qual não consigo perceber este "rasgar de vestes" de alguns sócios.

"Bruno de Carvalho teve uma atitude de menino mimado na última AG" disseram alguns sócios quando o presidente retirou as propostas e anunciou que nos dias seguintes iria decidir com a direcção o que iria fazer. Seria giro as pessoas colocarem-se no lugar dele. Gostando-se ou não do estilo, o homem dá a cara pelo Sporting como nunca outro presidente o fez. Venham os ataques de onde vierem, às horas que vierem, sabemos que podemos contar com o nosso presidente para defender o clube. Obviamente isto causa-lhe um tremendo desgaste e influencia negativamente a sua vida pessoal e familiar. 

Por "sair-lhe do corpo" todo este esforço e dedicação é normal que não goste de "olhar para trás e ver uma parede", como disse na conferência de imprensa de anuncio da AG de dia 17. Mas foi isso que viu. Esta desconfiança em relação aos estatutos não tem o mínimo de justificação depois de os sócios lhe terem dado a confiança para retirar o clube do buraco financeiro que se encontrava. Por tudo o que fez pelo clube, Bruno de Carvalho merecia ao menos que os sócios perdessem uns minutos a lerem as alterações o opinassem em conformidade, e alguns nem isso fizerem. 

Compreendo e aceito que alguns Sportinguistas não gostem do estilo e da forma como o presidente gere o clube, mas isso de pouco deveria interessar quando o que mais importa são os superiores interesses do Sporting CP. E é muito isto que falta no Sporting: Militância, meus senhores. Até quando vamos continuar a atacar os nossos sem justificação plausível?

Enquanto vemos Sportinguistas a malharem em Bruno de Carvalho por ter feito um post no Facebook, vemos Benfiquistas a defenderem Vieira mesmo sabendo todas as patifarias que tem feito. Por uma questão de treta Bruno de Carvalho é designado de ditador e chantagista pelo país inteiro. Já o senhor do bigode pode comprar árbitros, delegados, observadores, funcionários e dirigentes da FPF e Liga, jogadores de outros clubes para perderem jogos ou até juízes, que continua a ser olhado com um verdadeiro "estadista". O especialista em pneumáticos é que deveria colocar imediatamente o seu  cargo à disposição dos seus sócios para legitimar a sua liderança e para toda a gente perceber de uma vez por todas se os benfiquistas se revêm nos métodos do seu líder. Isso sim, era de valor.

Mas alguém acha isto normal? Os Sportinguistas ainda não perceberam que o maior desejo dos nossos rivais é verem Bruno de Carvalho fora do Sporting? Por que será? Já repararam que para Godinho Lopes só haviam elogios da imprensa, dos comentadores e dos rivais? Para eles esse era um verdadeiro estadista, ao bom jeito de Vieira. 

Perante todo este cenário, parece-me que Bruno de Carvalho terá pensado algo deste género: "Será que vale a pena continuar? Será que vale a pena sacrificar-me pelo Sporting se depois ainda sou atacado pelos meus pares? Será que não mereço o reconhecimento por tudo o que tenho feito? E quem o pode recriminar por pensar isso? 

É hora de os Sportinguistas reconhecerem o mérito a esta equipa dirigente e de abraçarem este projecto com uma faca nos dentes. No lodo que é o futebol em Portugal não é com flores que lá vamos. Está na hora de uma vez por todas os Sportinguistas abrirem a pestana e definiram claramente um rumo para o clube. O que estará verdadeiramente em causa no próximo sábado é o futuro do clube em que a resposta às seguinte perguntas tem de ser dada com clareza. Esta direcção merece o meu respeito e a minha confiança pelo que têm feito? Será que estou disponível para estar ao lado do presidente na luta pelos interesses do Sporting?

Se os sócios querem a continuidade de Bruno de Carvalho no Sporting terão de sair da sua zona de conforto e dirigirem-se em grande número ao Pavilhão João Rocha no próximo sábado. De outra maneira, Bruno de Carvalho pode mesmo sair do Sporting da forma mais cruel possível, ao ser demitido por uma minoria de sócios no pavilhão que ofereceu aos Sportinguistas.

Têm a palavra os sócios do Sporting. A minha resposta há muito que está dada: Sim, Sim e Sim!

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