Este artigo tinha publicação prevista para a manhã do dia da Assembleia-Geral, mas devido aos tardios esclarecimentos por parte do Conselho Diretivo em relação ao Orçamento e Contas - só foram dados por volta das 22h30 da véspera da AG - e a um imprevisto pessoal, não me foi possível terminar o artigo em tempo "útil", para os diversos leitores que me pediram para escrever sobre o assunto. De qualquer forma, expressei o meu sentido de voto através do twitter, mas sem justificações. Essas, apesar de a tarde e más horas, seguem de seguida.
Orçamento de 2020/2021 para aprovar
Para 2020/2021, o Conselho Diretivo apresenta aos Sportinguistas mais uma enorme redução de rendimentos, que se cifram agora na casa dos 21,464 milhões de euros (redução de 5 milhões face a 18/19), que irão certamente desaguar numa menor capacidade competitiva das equipas, nomeadamente em termos internacionais, uma vez que nas competições domésticas os nossos rivais vivem situação idêntica e devemos estar aptos a competir em praticamente todas as modalidades.
Relativamente a este orçamento, e em face da pandemia, voto favoravelmente o que foi proposto. Não por considerar que é um bom orçamento, mas por considerar que as circunstâncias são realmente difíceis num contexto de pandemia, sendo muito complicado fazer previsões neste clima de incerteza. Adicionalmente, a incapacidade deste conselho diretivo foi evidente em tempos "normais" e não será agora em tempos absolutamente anormais que vão conseguir fazer o que não fizeram quando existia condições para o fazerem. Vejo sempre a votação contra um orçamento como a manifestação que o caminho proposto não é correto. No caso, trata-se de um orçamento para "levar o barco", e não um orçamento com uma política estrutural para o clube, como ocorreu no ano passado. Portanto, não vejo interesse ou benefício em votar contra.
De qualquer forma, os sócios são soberanos e decidiram chumbar o Orçamento. Desta parte estamos conversados. Passo de seguida para as contas de 2019/2020.
A execução orçamental de 2019/2020
Começo por uma breve análise à execução orçamental do exercício de 2019/2020. No quadro seguinte poderão ver a comparação entre os rendimentos e gastos orçamentados e o que na realidade foi executado.
Como podem verificar, tivemos um decréscimo proporcional entre rendimentos e gastos, na casa dos 1,4 milhões de euros, entre o orçamento e a execução. No ReC apresentado, o Sporting justifica estes decréscimos com a Covid-19, chegando mesmo a quantifica-los. Vejamos:
Na redução de rendimentos, o Sporting diz que perdeu 1,432 milhões de euros de rendimentos, por força da pandemia, que foram compensados por 1,272 milhões de euros, fruto do processo de lay-off e de outros cortes.
Se na parte da redução dos custos são números perfeitamente justificáveis e fáceis de contabilizar, porque se sabe exatamente os montantes relativos ao lay-off, etc, o mesmo não se pode dizer na estimativa apresentada para a redução das receitas, porque nestas rúbricas existem muitos fatores aleatórios associados.
Não tenho mesmo problema algum em dizer que não acredito minimamente na estimativa apresentada pelo Conselho Diretivo, no que diz respeitos à redução de receitas por via da pandemia. Acho sinceramente que aproveitaram a pandemia para justificar a enorme perda de rendimentos que já vem desde o dia em que pegaram no clube. Mas esta é a minha opinião pessoal, que retirarei da equação para a análise seguinte.
O efeito "E" - Extras e Estimativas
Se estão bem recordados, no ano passado fiz uma publicação onde pela primeira vez defendi o chumbo num Orçamento do Sporting (aqui). O motivo pelo qual o fiz esteve relacionado com a redução de rendimentos e sobretudo do corte no orçamento para as modalidades.
Se recuarmos a 2018/2019, percebemos que o Sporting obteve rendimentos de 26,334 milhões de euros. Nas contas agora apresentadas, referentes a 2019/2020, os rendimentos sofreram um decréscimo superior a 4 milhões de euros (26,334M - 22,286M = 4,048 milhões de euros). Contudo, há aqui alguns pontos que merecem uma análise mais cuidada.
No exercício de 18/19 tivemos um "extra" grande, relacionado com direitos de formação de Cristiano Ronaldo, que renderam ao clube 1,675 milhões de euros, razão pela qual considerarei apenas 24,659 milhões de euros de rendimentos em 18/19. Portanto, retirando Ronaldo da equação de 18/19 a diferença total entre rendimentos de uma época para a outra situar-se-ia nos 2,3 milhões de euros.
Obviamente, também não me esqueço dos efeitos da pandemia. Apesar de não acreditar na estimativa de rendimento perdido pela Covid-19, considerarei nesta análise o número avançado pelo Conselho Diretivo. Ora, acrescentando aos rendimentos efetivamente obtidos à tal estimativa de rendimentos perdidos pela pandemia (os tais 1,432 milhões) ficaríamos com um rendimento total em 19/20 de 23,793 milhões de euros.
Portanto, em 18/19 sem "extra" de Cristino Ronaldo teríamos rendimentos de 24,659 milhões de euros. Em 19/20, somando aos rendimentos efetivamente obtidos, à tal estimativa teríamos rendimentos de 23,793 milhões de euros. Ou seja, em circunstâncias semelhantes, estaríamos perante uma perda de rendimento de 866 mil euros.
Completamente... incapazes
Um diferença de 866 mil euros de rendimentos de um ano para o outro é sempre preocupante e negativa, mas não tiraria o sono aos Sportinguistas. O problema é que o exercício de 19/20 teve também ele um enorme rendimento "extra", relacionado com a renumeração de sócios, que originou o regresso de 8.141 sócios, representando uma receita adicional de 1,164 milhões de euros, como informou o próprio Conselho Diretivo.
Portanto, sem renumeração, estaríamos a falar de uma quebra nas quotizações de 1,164 milhões de euros. Ou seja, se retirarmos da análise os rendimentos "extras" relacionados com Ronaldo/Renumeração e a estimativa das quebras de rendimentos relacionada com a pandemia, perceberíamos que de 18/19 para 19/20 o Sporting perdeu 2,030 milhões de euros em rendimentos.
Este é o exemplo perfeito para ilustrar a incompetência deste conselho diretivo, que não consegue aumentar os rendimentos nem do clube, nem da SAD. É até muito fácil os sócios do Sporting perceberem isso através de uma pergunta: Que grande acordo ou parceira fez Frederico Varandas e seus pares para benefício do Sporting? A resposta é "bola", como diria Jorge Jesus, mas se quiserem podem inserir aqui a piada com os 2 milhões de euros estourados num protocolo com o Wolves.
Por fim, quero apenas deixar-vos com o exemplo do que seria possível fazer com os 2 milhões de euros de rendimentos que este Conselho Diretivo perdeu. Dava por exemplo para contratar 20 atletas com um vencimento de 100 mil euros por época. Para quem não está por dentro dos valores pagos nas modalidades, um vencimento destes paga um super craque em qualquer das modalidades do clube. Assim de cabeça, parece-me que não devemos ter mais de 2 ou 3 jogadores a auferirem valores dessa grandeza. Portanto, já imaginaram o nível competitivo que um valor destes permitiria às nossas equipas?
Permitiria, por exemplo, que a Volta a Portugal, que ontem terminou, tivesse em prova as míticas camisolas verdes e brancas, envergadas no passado por Joaquim Agostinho ou Marco Chagas. Gente que levou o Sporting até onde o clube nunca tinha estado verdadeiramente e que fizeram uma página tão grande e bonita da história do clube. Mas não, Frederico Varandas e seus pares preferiram acabar com o ciclismo sem sequer darem uma satisfação aos sócios do Sporting. Uma canalhice e uma indignidade.
Perante isto, e uma vez que já tinha votado contra o Orçamento de 18/19, não me restaria outra opção que não estar contra esta apresentação de contas. E para isso nem preciso entrar pela célebre questão da dívida do clube à SAD, que ficará para uma análise futura, assim como os resultados da Assembleia Geral.
Podem seguir o blog nas redes sociais nos links seguintes: