quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O "caso" Miguel Albuquerque

Na passada quinta-feira, o Correio da Manhã trouxe à estampa um enorme destaque dedicado a Miguel Albuquerque, diretor-geral das modalidades do Sporting. Desde esse dia até hoje, foram várias as movimentações, que agora, com algum distanciamento temporal, passo a analisar. Primeiro vamos aos "factos" em cima da mesa.

1 - A versão do Correio da Manhã



Vejamos agora o conteúdo da notícia.

Relativamente ao processo em si, o Correio da Manhã diz que existiram diversas agressões verbais, através de mensagens, assim como uma situação em que Miguel Albuquerque terá embatido no carro da ex-mulher, no sentido de parar o veículo. O tribunal "condenou Miguel Albuquerque a 2 anos e 2 meses de prisão com pena suspensa". Esta deliberação foi tomada em "junho do ano passado" e Miguel Albuquerque não recorreu.

Contactado pelo Correio da Manhã, o Sporting confirma que a ex-mulher também exerce funções no Sporting e que o clube "não teve conhecimento de que tenha sido proferida qualquer sentença de condenação com esse conteúdo e com esse arguido". 

2 - A reação do Sporting

Pela hora do almoço dessa quinta-feira, o Sporting emitiu o seguinte comunicado: 


3 - O dia seguinte


No dia seguinte à notícia inicial e ao comunicado do Sporting o Correio da Manhã voltou a escrever sobre o mesmo assunto. 


Diz o Correio da Manhã que "Miguel Albuquerque nunca terá informado a entidade patronal". Diz também que deverá ser instaurado um processo disciplinar mas que "continua a receber salário (3500 euros mensais)".

4 - O que faltou dizer



O que faltou dizer, por falta de interesse do Correio da Manhã, teve de ser dito pela ex-mulher de Miguel Albuquerque, que teve que recorrer à figura do "direito de resposta", consagrado na lei, para dar esclarecimentos sobre o assunto.

Ficamos a saber que a "ex-mulher" reconciliou-se e retomou a relação com Miguel Albuquerque ainda durante o processo. Mais informou que não lhe foi possível retirar a queixa porque se tratava de um crime público. Aproveitou ainda a oportunidade para desmentir que ela ou a filha tenha recebido qualquer tipo de assistência médica ou tratamento hospitalar. 

5 - O que Correio da Manhã fez no "Verão passado"


Se recuarmos ao dia 7 de maio de 2019 e olharmos para a capa do Correio da Manhã, verificamos o seguinte: 


Vejamos também a notícia na íntegra para não restarem dúvidas.


Segundo a notícia do Correio da Manhã de dia 7 de maio de 2019, e assinada por Tânia Laranjo, o julgamento de Miguel Albuquerque iniciou-se nesse preciso dia. Diz ainda o CM que o "caso surpreendeu altos dirigentes do Sporting". 

Portanto, de 7 de maio de 2019 a 22 de outubro de 2020, o Correio da Manhã não escreveu uma linha sobre a conclusão deste caso. 

Temos então até aqui toda os factos públicos relacionados com este caso. Passo agora a dar a minha opinião sobre todos pontos deste "caso".

Qual é o interesse do Correio da Manhã no assunto?


Quantos portugueses conhecem Miguel Albuquerque? Será que esta figura e este assunto tem relevância mediática para ser o principal destaque de capa do jornal com maior tiragem a nível nacional, numa fase em que o país tem tantos e graves problemas para noticiar?

Se as respostas a estas perguntas já nos fazem duvidar do súbito interesse do Correio da Manhã pelo tema, pior ficamos quando nos apercebemos que estamos a ler uma "notícia" de algo que ocorreu há um ano e meio. 

Os crimes


Não há desculpas que atenuem o crime que Miguel Albuquerque cometeu. Este é um erro com o qual terá de viver o resto da sua vida e pelo qual foi punido pela justiça, com dois anos e dois meses de pena suspensa. Contudo, importa salientar que Miguel Albuquerque não foi condenado por violência física, mas sim verbal. Igualmente lamentável e profundamente condenável, mas importa salientar a diferença.

Entretanto, e apesar do divórcio, a situação foi ultrapassada e o casal reconciliou-se. Uma reconciliação que ocorreu ainda muito antes do processo ser julgado. Para que se perceba ainda melhor a situação, importa referir que o processo só não foi retirado pela vítima porque se tratava de um crime público. Entenderam ainda, enquanto casal que seria hora de colocar um ponto final no assunto e Miguel Albuquerque não recorreu da sua pena. E por certo, como habitualmente ocorre nestas matérias, a pena acabaria por ser reduzida ou até mesmo retirada. 

Uma encomenda 


A "investigação" do Correio da Manhã sobre esta matéria foi tão aprofundada, mas tão aprofundada que nem sequer conseguiram dizer que o casal reconciliou-se cerca de um ano antes do caso ir a julgamento (Maio de 2019). Como se isto fosse um pormenor insignificante, não é senhores do Correio da Manhã?

Meus amigos, tudo isto era público e conhecido por toda a gente. Recordo, por exemplo, o caso das agressões a que a comitiva do Sporting foi alvo no Dragão Caixa em Março de 2019, dois meses antes do julgamento. Se bem se recordam, Miguel Albuquerque estava acompanhado... precisamente pela sua ex-mulher. 

Ou seja, depois desse problema conjugal, Miguel Albuquerque e a sua ex-mulher reconciliaram-se e vivem juntos com a filha em comum há mais de dois anos e meio. Eu vou repetir devagarinho a ver se as pessoas percebem. Há dois anos e meio que esta família está unida e ultrapassou os problemas do passado. Virem agora, tanto tempo depois, recuperar esta história e dar amplitude de capa a este assunto demonstra bem os escrúpulos de quem meteu esta encomenda no Correio da Manhã, sobretudo quando pensamos numa família com uma filha adolescente. 

O que eu faria?


Por princípio, sou da opinião que o Sporting não deve ter funcionários com antecedentes criminais e muito menos deve ter funcionários a cometerem crimes. Mas cada caso é um caso, e deve ser analisado à luz de várias vertentes, nomeadamente: as circunstâncias, o comportamento, o histórico no clube e os superiores interesses do Sporting. Por exemplo, se um jogador de futebol profissional cometer um crime, vamos despedi-lo ou vamos tentar encontrar uma solução?

Muito sinceramente, em face dos factos analisados anteriormente, admitiria que o Conselho Diretivo do Sporting tomasse qualquer uma das decisões. Ou a suspensão/despedimento ou a manutenção no cargo. 

Neste caso concreto, até existem várias atenuantes. Miguel Albuquerque cometeu um erro, foi punido por isso e reconquistou as pessoas que mais prejudicou com os seus atos. A sua família perdoou os seu erros e a justiça achou que o seu crime não o deveria ter levado a ser excluído da sociedade, tendo-lhe sido aplicada a pena suspensa. Os mais de 20 anos que leva ao serviço do Sporting têm sido de uma dedicação e competência extraordinária, e não podem ser apagados levemente. 

Perante todos estes factos público, parece-me que poderia perfeitamente continuar em funções com uma repreensão e com a condição que os atos que praticou não são para voltarem a ser cometidos, sejam em que circunstância forem. E julgo que a opinião da maioria dos Sportinguistas vai nesse sentido, até porque na manhã em que a notícia saiu não vi grande manifestações a pedirem a "cabeça" de Miguel Albuquerque.

Mas como digo, eu até aceito que o Conselho Diretivo não pense assim e que não o queira ver ligado ao clube pelo sucedido, por considerarem que estes comportamentos prejudicam o Sporting. Aceitaria perfeitamente uma decisão nesse sentido. Mas, se assim fosse, deveriam ter arranjado uma saída "limpa" para ele, por reconhecimento ao trabalho que tem desenvolvido no Sporting ao longo de duas décadas. Até porque temos outra pessoa envolvido com ligação ao clube. A sua companheira (já suficientemente prejudicada), merecia essa "consideração", até porque o despedimento de Miguel Albuquerque também irá afetar a sua família. Existem várias maneiras de fazer isto a bem, que por certo não será preciso estar aqui a sugerir. Toda a gente sabe como isto se faz. 

Sabiam ou não?


Este é um caso particularmente relevante para a orgânica interna do clube até porque a companheira de Miguel Albuquerque chegou ao Sporting ainda antes dele, tendo por isso, mais de 20 anos de "casa". Miguel Albuquerque tem precisamente 20 anos de Sporting, tendo chegado ao clube com apenas 25 anos. Falamos então de duas pessoas que passaram praticamente toda a vida adulta com o "leão rampante" ao peito. 

Como é lógico, a relação do casal era conhecida de toda a estrutura, tal como era conhecido internamente o processo que opôs o casal, a reconciliação e todos os desenvolvimentos. Que fique claro que nenhum funcionário, diretor ou membro dos órgãos sociais recebeu esta novidade pelos jornais, como foi passado pelo Correio da Manhã, até porque, como vimos em cima, no dia em que o julgamento se iniciou o Correio da Manhã deu essa notícia. 

Bem, o que é um facto é que na campanha eleitoral de 2018, Frederico Varandas não se importou com o caso ou com o processo, tendo utilizado Miguel Albuquerque como trunfo eleitoral. Parece-me até evidente que este apoio foi decisivo para a vitória eleitoral de Frederico Varandas. 

Em Maio de 2019, altura em que o julgamento se iniciou e em que o Correio da Manhã fez a primeira notícia, Frederico Varandas também não se pronunciou sobre o assunto, mantendo tudo na mesma. Quer-nos agora fazer crer o Correio da Manhã, com a encomenda do dia seguinte, que o Sporting ficou muito surpreendido pelo assunto e que por isso suspendeu o dirigente. A realidade é que não consideraram a situação relevante, até que...

"Já foste"


Se dúvidas havia sobre quem "plantou" a notícia no Correio da Manhã, as mesmas ficaram dissipadas nas horas seguintes. Desde logo, pela intervenção rapidíssima do Sporting, que pela hora do almoço já estava a anunciar a suspensão de Miguel Albuquerque. Perante isto, eu pergunto: a suspensão do quadro mais alto do Sporting (clube) é tomada por quem? Pelo Dir. Recursos Humanos ou pelo Conselho Diretivo? Parece-me evidente que nenhum Dir. Recursos Humanos no mundo se meteria nisto. 

Ora, se a responsabilidade é do Conselho Diretivo, eu gostaria de perguntar ao Presidente do Sporting se existiu alguma reunião extraordinária do Conselho Diretivo na quinta-feira de manhã para deliberar sobre esta matéria? Que eu saiba as reuniões do Conselho Diretivo são às terças-feiras. A não ser que a decisão já estivesse tomada, mesmo antes da notícia ter saído...

Na notícia do dia seguinte no Correio da Manhã, onde é passada a narrativa de que ninguém no Sporting saberia da conclusão do processo, percebe-se perfeitamente que a encomenda veio do próprio Sporting. Basta olhar para o pormenor do "continua a receber 3.500€ mensais". E percebe-se que é uma encomenda do Sporting porque toda a gente no clube sabia disto. Esta narrativa do "Clube soube pelo Correio da Manhã", é até facilmente desmontada se pensarmos que a notícia do julgamento saiu em Maio de 2019. Então, de maio de 2019, altura em que o processo foi dado a conhecer a todos os portugueses, até esta semana, ninguém no Sporting se lembrou de ver o estado do processo do Miguel Albuquerque? Ninguém quis saber disso? Estamos agora tão melindrados pela condenação que nos borrifamos durante um ano e meio para o veredito que estava para ser anunciado?  

Recordo apenas que este Frederico Varandas em versão "exterminador implacável" para Miguel Albuquerque é o mesmo sujeito que convidou Fábio Paím para "scout" do Sporting, situação que depois não se veio a concretizar porque Fábio Paím arranjou novo clube. Quando falamos de Fábio Paím, falamos de  alguém que teve um custo brutal e prejudicou gravemente o Sporting. Falamos de alguém que é condenado e que esteve preso por tráfico de droga, mas que Frederico Varandas, do alto da sua bondade quis recuperar para o Sporting há coisa de quatro meses.




Para fechar


Não restam grandes dúvidas que estamos perante um saneamento político. Se não fosse esse o caso, e se a suspensão estivesse diretamente ligada à condenação, Miguel Albuquerque já há muito teria de estar suspenso/demitido. Como é lógico, Miguel Albuquerque era um nome importante do universo leonino e uma eventual candidatura ou apoio a outro candidato seriam sempre muito relevantes num próximo ato eleitoral. Com esta história e com a condenação pública por parte do clube, já assumida em comunicado, Miguel Albuquerque foi ferido de morte para o que quer que seja no Sporting. 

Este é apenas e só mais um tiro político na história recente do Sporting. Em 2018, Bruno de Carvalho e Carlos Vieira foram suspensos e impedidos de ir a votos por uma comissão de fiscalização que não foi eleita pelos sócios. Carlos Vieira, um nome de peso para uma eventual disputa eleitoral, está neste momento a ser impedido de pagar quotas por uma utilização abusiva dos estatutos, para ser impedido de concorrer num próximo ato eleitoral. E agora Miguel Albuquerque, que com esta estratégia vergonhosa é eliminado da corrida. Neste momento, este gente continua a trabalhar para eliminar Augusto Inácio, e muito se têm esforçado, uma vez que oficialmente e oficiosamente este Conselho Diretivo e a sua entourage tudo têm feito para o "ferir de morte", como se provam as encomendas no Correio da Manhã relativas a um "processo fiscal", a encomenda no Record com o "caso Sinisa Mihajlovic, ou até mais recentemente, as declarações de Miguel Braga, diretor de comunicação do Sporting há coisa de dois meses. 

E assim segue a nossa vida interna. No final do dia, quem perde é sempre o Sporting, mas não é altura para lamentos porque foi este o caminho que os sócios do Sporting escolheram seguir.  

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5 comentários:

  1. Este assunto mete nojo...

    E é óbvio que tudo isto cheira mal e está muito mal contado pelo Clube.

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  2. Nojento o Varandas e a sua trupe. Asco eterno ao rato desertor.

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  3. O meu aplauso, Mister,por ter abordado este assunto enquadrando-o devidamente. SL

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  4. Não consigo estar de acordo, com a "motivação" deste caso. Por mais imbecil que seja Varandas e os seus acólitos mais próximos, sabem que a sua presidência durará no máximo até ao final do mandato. Rogério sabe-o também. Miguel Albuquerque é um nome queimado, ou no mínimo chamuscado, pelo apoio a Varandas, o que fez dele um traidor para os Sportinguistas anti-croquetes. Basta ler a página de facebook e dois terços são sempre a criticá-lo. Ora, este caso, não só o torna conhecido fora do universo Sportinguista, como o torna livre da ligação a Varandas/Rogério mas continuando sempre o funcionário competente e "apoiável" dos "notáveis". É o empregado prefeito, controlável, para quem manda no Clube e ao mesmo tempo, o funcionário que foi expulso por eles. Portanto, este caso não belisca a sua possibilidade de candidatura, antes aumenta e muito todos os campos de apoio. Em eleições "limpas", apenas Inácio lhe pode ganhar, ou a aparente impossibilidade BdC.

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  5. Obrigado Mister, por mais este excelente trabalho.

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