Estádio Municipal de Braga em vias de receber jogo(s) à porta fechada

Já não tenho palavras para definir a falta de transparência no futebol português e o branqueamento que é feito pela imprensa nacional. No último Braga-Sporting, todo o país viu o momento em que o árbitro Luís Godinho foi agredido por objectos vindos da bancada onde estavam os adeptos do Braga, numa altura em que consultava as imagens do VAR. Toda a gente viu, mas ninguém fala nisso. Para que se perceba melhor, os jornais do dia seguinte nem sequer uma curta referência fizeram sobre este facto. 

Os factos em causa

Na passada segunda-feira fiz um post sobre esta situação onde apresentei um vídeo com as imagens, assim como prints do regulamento disciplinar, que para estes casos diz que o clube dos adeptos que cometeram estes actos será punido com a "sanção de realização de jogos à porta fechada a fixar entre o mínimo de um e o máximo de dois jogos e, acessoriamente, com a sanção de multa". Esse post com toda a base regulamentar e diversa informação adicional pode ser consultado (aqui). 

O relatório do árbitro

Para esta época foi introduzido nos regulamentos a divulgação pública dos relatórios dos árbitros. Concordo com esta medida, mas nunca nos termos em que está a ser efectuada. Em Espanha os relatórios dos árbitros são divulgados logo na noite em que a partida é realizada, permitindo aos jornalistas e aos adeptos em geral saberem as incidências relatadas pela equipa de arbitragem. Em Portugal, como gostam sempre de meter uma chico-espertice em cada alínea dos regulamente, optou-se por apenas divulgar os relatórios dias depois de a jornada estar fechada. Num jornada realizada a dias normais (de sexta a segunda), os relatórios só ficam disponíveis na quarta-feira seguinte. Foi o que aconteceu esta semana. 

Relatórios jornada 28

Em cima está o print do site da FPF com os relatórios dos árbitros da 28ª jornada. Como podem verificar, não foi disponibilizado o relatório do (Braga-Sporting), (Marítimo-Feirense) e do (Portimonense-Moreirense). E isto acontece porquê? Simples. No "tugão" está definido que sempre que existir matéria de análise para processo de inquérito num desses relatórios, os mesmos ficam escondidos numa gaveta até que um eventual processo disciplinar esteja concluído. 

Mas ó mister e como é que sabemos se há ou não processo disciplinar?

O Conselho de Disciplina da FPF comunica a abertura de processos através do site do organismo, como podem ver de seguida. 

Comunicado Conselho de Disciplina da FPF de dia 4/4/2018

Como podem verificar, no dia 4 (quarta-feira), dia em que também saíram os relatórios das equipas de arbitragem, o senhor Meirim divulgou a instauração de três processos disciplinares.

Ora, aqui entramos noutro caminho obscuro do futebol português. Como estão a ver, não é prestada qualquer informação adicional sobre os processos em causa. Não indicam o jogo, os intervenientes ou o motivo do processo disciplinar. Isto é absolutamente vergonhoso e tem de ser fortemente combatido por todos. Os relatórios dos árbitros têm de ser divulgados no dia do jogo e a instauração de processos disciplinares tem de indicar claramente o que está em causa. Isto sim, seria digno de um futebol digno e transparente. 

Portanto, temos três jogos em que os relatórios das equipas de arbitragem ficaram escondidos numa gaveta e temos também três processos disciplinares instaurados. Logo, será um processo por cada jogo. Olhando para o que está descrito no comunicado e fazendo um pouco um jogo do "adivinha", fico com a ideia que o primeiro processo a agentes desportivos terá estado relacionado com os incidentes no final da partida entre o Portimonense e o Moreirense. Acredito também que o segundo processo de inquérito esteja relacionado com o Marítimo-Feirense. 

Resta o processo de inquérito 32-2017/2018 que versa sobre "factos ocorridos em jogo da Liga NOS". Aqui parece-me evidente que se refere às agressões a que o árbitro Luís Godinho foi alvo por adeptos do Braga. 

Esperar sentado...

Estes comunicados obscuros do Conselho de Disciplina são prontamente descodificados pelos jornais dependendo do interesse de determinado clube, sob a forma das fontes federativas. Neste caso, as fontes federativas não devem ter intenção de passar aos jornais que existe um processo de inquérito aos incidentes no Municipal de Braga e que o clube pode mesmo ter de jogar um ou dois jogos à porta fechada. Toda a gente muito caladinha, para ver ser o processo se arrasta para ser apenas decidido na próxima época.

Este caso é o exemplo claro da falta de transparência do futebol português e da forma como a imprensa branqueia casos muito graves. É também curioso que os senhores José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de arbitragem e o senhor Luciano Gonçalves, presidente da APAF não tenham ainda vindo a terreiro defenderem o árbitro da partida. 

Devem estar muito ocupados a enviar emails com pedidos de bilhetes para o clássico...

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