As comissões do futebol português

Pelo terceiro ano consecutivo a FPF revelou os dados relativos às comissões pagas a intermediários em processos de renovação e de transferências de jogadores. 

2017/2018

Os dados referentes a esta época mostram-nos que o Benfica foi o clube que mais gastou em comissões (21,6M). Em segundo lugar e já a alguma distância aparece o Sporting com 14,7M. Em terceiro lugar está o Braga com 8,8M. O Porto está apenas no 4º lugar com 8,6M. Para além do Braga é de salientar a prestação do Vitória de Guimarães e do Estoril Praia com valores bastante elevados para o que tem sido normal. 

A análise a 3 anos

Comissões geradas em Portugal (2015-2018)

- Nos últimas três épocas foram gerados 135 milhões de euros em comissões nos campeonatos profissionais em Portugal. Se olharmos para os valores totais de cada época, verificamos que os montantes têm vindo sempre a subir. 

- Como seria de esperar, os três grandes dominam os primeiros lugares. Contudo, a diferença do Benfica para os restantes competidores é muito grande. Os encarnados gastam mais em comissões do que Sporting, Porto e Braga juntos. 

- O crescimento do Braga esta época é enorme, tendo inclusivamente ultrapassado o Porto. Destaque também para os números do Vitória de Guimarães e Estoril Praia. 

- Dos clubes que nunca saíram da II Liga aparecem apenas três clubes e com valores residuais. 

- De todos os clubes que disputaram a I Liga durante estes três anos, o Boavista é o único clube que não gastou um único cêntimo em comissões. 

Em termos percentuais

Percentagem comissões pagas em Portugal (2015-2018)

Este gráfico é bem demonstrativo da distribuição das comissões. 

O caso do Sporting

O Sporting subiu bastante os montantes pagos em comissões em relação às épocas anteriores. E aqui há algumas explicações relevantes. Desde logo, a venda de muitos jogadores sem grande estatuto em termos europeus. Casos em que é sempre necessário pagar comissão, como foram os casos de Paulo Oliveira, Marvin Zeegellar, Schelotto, Semedo, André ou Ewerton. Algo que não aconteceu por exemplo nas vendas de Slimani e João Mário em que não foi paga qualquer comissão. 

Depois, em termos de entradas há 4 jogadores que entraram a "custo zero" e que tem grande peso nestas contas: Fábio Coentrão, Mathieu, Montero e André Pinto. Entre comissões e prémios de assinatura só nestes 4 jogadores devem estar cerca de 7 milhões. E ainda há que somar os valores pagos nas restantes contratações de jogadores com destaque para Acuna, Bruno Fernandes e Wendel. 

No caso do Sporting é fácil encontrarmos os valores referentes a estas contratações e renovações de contrato, uma vez que o clube disponibiliza todas as informações no seu ReC e no jornal Sporting. 

Mais transparência

Esta prática foi instituída pelas instâncias internacionais, mas é preciso que a regulamentação e a regulação do futebol crie mais mecanismos de transparência. O relatório apresentado pela FPF não discrimina os valores pagos em cada negócio. Algo que é uma enorme limitação para quem quer analisar devidamente a gestão do seu clube. Por exemplo, o Arouca gastou esta época 173 mil euros em comissões. Algo nunca visto para uma segunda Liga. Alguém consegue explicar isto? Provavelmente até terá uma explicação lógica, mas se os dados fossem disponibilizados ninguém levantaria dúvidas.

E aqui voltamos ao mesmo assunto de sempre e que tem sido bandeira de Bruno de Carvalho. Não podem ser os clubes a se regularem e a fazerem os regulamentos. Enquanto assim for, a esmagadora maioria dos presidentes preferirá o caminho mais obscuro.

O futebol tem de ser completamente direccionado para a vontade dos adeptos. Neste sentido, pergunto: haverá algum adepto em Portugal que não queira saber quanto e onde é que o seu clube gasta o dinheiro?

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