A taça do "pouco importa"

"Pouco importa pouco importa, se jogámos bem ou mal, vamos é levar a taça, para o nosso Portugal". Foi este o mote dado pelos adeptos de Portugal no europeu em que nos sagramos campeões da Europa. Na altura, o país inteiro "cantou" em uníssono a narrativa de que o resultado era mais importante do que a exibição. E é. Sempre. Em qualquer dia, a qualquer hora e em qualquer lugar.

Qual é a melhor selecção de sempre de Portugal? É a de Eusébio que encantou Inglaterra em 66 e veio para casa de mãos abanar? É a selecção de Figo que encantou a Europa em 2000 e 2004 perdendo a final em casa? Ou é a selecção de Ronaldo que foi à Gália deixar os "avecs" com um galo de todo o tamanho? Perguntem aos emigrantes portugueses em França que eles não terão dificuldades em explicar os motivos pelos quais a selecção de Ronaldo é a melhor de sempre.

"Pouco importa se jogamos bem ou mal"

O futebol é um desporto de competição cujo objectivo é ganhar. Ponto final. Claro que é muito bonito vermos duas equipas a jogarem futebol ofensivo e jogos com muitos golos e bem jogado, mas isso não é o objectivo do futebol. O futebol não é ópera, não é um concerto de rock, não é uma peça de teatro. Futebol é uma competição onde se deve jogar para ganhar usando as armas que se têm a disposição para se conseguir a vitória, dentro de um espírito de lealdade e da verdade desportiva. Por isso é que o futebol é o melhor desporto do mundo. É o desporto onde uma equipa de amadores da 3a divisão pode eliminar um clube grande da 1ª Liga. É isso que torna este desporto tão apaixonante. Tudo pode acontecer.

Portanto, não me venham falar de injustiças. De "jogar como nunca e perder como sempre" estão os Sportinguistas fartos. Este jogo foi precisamente o oposto deste lema que nos persegue. Tirando os primeiros 20m da final, em que as equipas estiveram equilibradas, o Porto foi superior em tudo. Na segunda parte chegaram a ocorrer momentos de massacre total ao Sporting que lá se ia defendendo como podia. Mas no final, ganhamos nós. Mostramos raça, uma vontade férrea de vencer, qualidade e frieza nos momentos decisivos do jogo. E foi limpinha!

"Pouco importa" se foi "que sorteeeeeeeeee"

"Que sorte mas é golo do Sporting" diz Alexandre Albuquerque, o Smeagol de serviço da RTP, aquando do golo do empate do Sporting.

Também pouco importaram os comentários deste artista.

"Pouco importa"... se tem 35 anos 

Exibição absolutamente monstruosa da dupla de centrais do Sporting. Estar a salientar apenas a exibição de Mathieu é injusto para a grande partida que Coates também fez. Exibições monstruosas frente a uma dupla temível como é Marega e Soares.

Quero salientar o jogador francês por toda a sua qualidade, garra e vontade em ajudar o clube aos 35 anos. Um verdadeiro leão que tinha obviamente de continuar a envergar a listada verde-e-branca. E o mesmo acontece com Coates. A melhor dupla de centrais do campeonato está no Sporting e não será por aqui que não seremos campeões nacionais na próxima época.

"Pouco importa" se tenham vindo da 2ª divisão

Luíz Phellype acabou por marcar o penálti decisivo que deu a vitória do Sporting na Taça de Portugal. Isto depois de Renan ter defendido uma grande penalidades. Curiosamente, dois jogadores que vieram de clubes da 2ª Liga.

"Pouco importou" a equipa de apitamento

Arbitragem de campo inclinado bem patente no critério disciplinar adoptado por Jorge Sousa e na prestação do 2º árbitro auxiliar, o senhor Nuno Manso. Este manso que é precisamente o árbitro que depois de ter lido uma critica no Facebook de uma adepta do Sporting, relativa ao Benfica-Sporting de 2016/2017  foi ao local de trabalho agredir e insultar a senhora.

Curiosamente, falamos também de uma partida apitada por... Jorge Sousa que já ai demonstrava a sua dificuldade em ver os adversários do Sporting a dominarem a bola com os braços. Nessa partida não viu duas grandes penalidades a favor do Sporting por mão na bola de Pizzi e Nélson Semedo, assim como na final da Taça não viu Herrera dominar a bola com o braço no lance que dá o golo inaugural da partida. Coincidências. Vamos recordar os lances desse derby.

A realidade é que pouco importou o apitamento do antigo membro dos Super Dragões. Ganhamos na mesma. E nem me venham lançar a teoria da expulsão do Coates, quando a bola nem sequer está controlada pelo jogador do Porto. Esta nem o tribunal do Ojogo conseguiu validar...

"Pouco importou" o caso Conceição/Varandas

Esta final ficou marcada pelo facto de Sérgio Conceição ter deixado Frederico Varandas de mão estendida na tribuna de honra do Jamor. Neste caso é importante começar por dizer que ninguém pode dizer com certezas o que terá acontecido para Sérgio Conceição ter tomado a atitude que tomou, pelo simples facto de os protagonistas não terem dado qualquer informação sobre o que se terá passado. Portanto, sem versão dos protagonistas tudo o que direi sobre este caso entra na esfera das especulações.

A atitude de Conceição foi sendo justificada na imprensa pelo facto de o Sporting ter feito uma participação disciplinar depois dos incidentes com Renan no Porto-Sporting da Liga. O treinador do Porto não terá gostado que o Sporting o tivesse tentado tirar da final e terá sido por isso que deixou Varandas de mão estendida. Esta foi a narrativa que passou.

Ora, analisando a questão dentro desta narrativa tenho a dizer várias coisas. A primeira é que o Sporting e qualquer outra entidade têm o direito de se queixar às autoridades competentes. Mais do que legal é completamente legítimo que o clube o faça, se sentiu que o seu jogador foi agredido. Depois as instituições da justiça desportiva irão tomar as suas decisões.

É também muito importante dizer que Sérgio Conceição estaria sempre na final da Taça, porque o castigo nunca iria sair tão rapidamente. Portanto, é uma falácia dizer-se que o Sporting quis tirar Sérgio Conceição da final. Se foi esta a justificação usada por Sérgio Conceição, tenho a dizer que é muito curta. E mais curta se torna se o treinador acha que não fez nada ao Renan. Se não fez nada de mal está preocupado com uma queixa do Sporting? Fecho, lançando uma dúvida relevante dentro da análise desta especulação. Se foi este o motivo para deixar o presidente do Sporting de mão estendida, não seria normal o treinador do Porto sentir-se atacado mal saiu a notícia e ter planeado de imediato que no Jamor não cumprimentaria o presidente do Sporting? Ou terá sido mesmo uma coisa do momento? Fica a dúvida no ar.

Retirando esta narrativa da análise e olhando apenas para o comportamento visível e conhecido, considero que deixar uma pessoa de braço estendido é uma característica dos cobardes. Se Conceição não estava satisfeito com alguma coisa, devia ter apertado a mão ao seu "oponente", olhando-o nos olhos e dizendo aquilo que queria dizer. Sinceramente, não faço disto um assunto de estado que mereça qualquer atitude do Sporting face ao Porto e ao seu treinador. Sérgio Conceição estava naturalmente aziado com a derrota. Hoje foi ele, amanhã poderá ser alguém ligado ao Sporting. É assim o desporto.

Quanto à resposta do Presidente Frederico Varandas tenho a dizer que esteve fantástico quando disse "nem consegui ouvir tal era o barulho dos festejos dos sócios do Sporting". Se tivesse ficado por aqui era brilhante. Mas o Presidente Varandas não aguenta não fazer o papel de moralista e lá seguiu pelo caminho da "forma de estar, valores e educação diferentes". Algo que era completamente desnecessário e que mais tarde ou mais cedo servirá de arma de arremesso num caso qualquer contra o Sporting. Tal como Sérgio Conceição deveria ter o poder de encaixe relativamente à queixa do Sporting, Varandas deveria ter ignorado o treinador do Porto sem dar uma de moralista. Até porque todos sabemos que são coisas que acontecem regularmente no mundo do futebol.

"Pouco importa" a recepção na CM de Lisboa

É um clássico português que os clubes se desloquem aos paços do concelho para serem homenageados pelas autarquias. Um clássico que pode ter acolhimento em praticamente todos os clubes do país, mas no Sporting não. O Sporting Clube de Portugal, como o nome indica, não é um clube de bairro, não é um clube de uma cidade ou região. O Sporting nasceu para ser um clube de âmbito nacional e neste sentido tanto poderia ser recebido nos paços do concelho de Lisboa, como em Faro, Covilhã, Porto, Coimbra, Angra do Heroísmo ou Funchal. O Sporting não é de Lisboa é de Portugal e não gosto que seja apresentado pelo presidente da CM de Lisboa como um clube da capital. Nunca o foi, não o é e nunca o será. Seremos sempre, Sporting Clube de Portugal!

Aproveito para deixar uma nota relacionada com estas homenagens da treta pelo poder político. A  única homenagem justa ao Sporting e aos seus atletas deve ser feita em Belém aquando das grandes conquistas europeias. Conquistas que valorizam o país e o desporto nacional. Conquistas como a da Liga Europeia de Hóquei em Patins, a Liga dos Campeões de Goalball ou a Champions de Futsal. Essas sim, são dignas de reconhecimento nacional. Tudo o resto "pouco importa".

Para fechar

Tudo isto "pouco importa" quando se ganha, mas tudo isto e muito mais, "muito importa" ser analisado para que o clube na próxima época consiga fazer mais e melhor. Aqueles que hoje são heróis, podem não ser a solução para conquistas futuras, assim como os métodos e as pessoas de hoje podem não ser as soluções do amanhã. Os apitos e as bocas que hoje acabaram por não ter influência, mas podem tê-la no futuro, assim como hoje os que nos recebem com loas podem ser os que amanhã nos escorraçam. É bom que os Sportinguistas não se esqueçam nunca disto.

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