sábado, 31 de dezembro de 2016

"A orgia do poder" está disponível em Janeiro - Entrevista a Pippo Russo


Excelente notícia! O último livro de Pippo Russo sobre o lado obscuro dos negócios de Jorge Mendes, terá uma versão portuguesa e será publicado já no próximo mês de Janeiro. De seguida fica uma entrevista que Pippo Russo concedeu ao jornalista João G.Oliveira do jornal Record.

Confesso que fiquei bastante surpreendido quando me apercebi desta entrevista "contra" Jorge Mendes. De facto, não é habitual a imprensa nacional publicar este tipo de artigo contra o melhor empresário do Dubai e arredores. Ficam os elogios ao Record e ao jornalista João G.Oliveira pela "coragem". De qualquer forma, o artigo no site do Record foi disponibilizado como sendo um conteúdo premium, onde só quem paga uma mensalidade consegue ter acesso. 

Fica a "curiosidade". Como diria alguém: "Ser bom não é ser bonzinho"...


Pippo Russo é um jornalista e sociólogo italiano que escreveu um longo livro sobre aquilo que acredita ser a "zona cinzenta" do futebol, onde a fronteira entre o legal e o ilegal é ténue, e que tem Jorge Mendes no epicentro. O jornalista falou com o Record sobre o livro que é publicado em Portugal no próximo mês e aquilo que classifica de "Método Mendes".

RECORD - O que é ao certo o Método Mendes?
Pippo Russo - Tentei fazer um perfil de Jorge Mendes diferente daquele que é habitualmente apresentado, não só em Portugal, mas no resto da Europa. Temos uma imagem dele muito positiva e tentei, de certa maneira, mostrar a face desconhecida de Jorge Mendes e contar uma contra-história, narrada com um enquadramento diferente dos factos conhecidos. Perguntei a mim mesmo, e aos meus leitores, como foi possível que Jorge Mendes tenha tido uma ascensão tão rápida no mundo do futebol, quase sem qualquer obstáculo.

R - E que resposta obteve?
PR - Portugal é, em geral e no mundo do futebol, um país bastante conservador. Não consigo explicar ao certo como é que um total desconhecido do mundo do futebol, como era Jorge Mendes, teve uma ascensão tão rápida, sem dificuldades ou obstáculos, e, acima de tudo, como é que foi possível que os agentes mais influentes do futebol do que ele não tentaram, quando começou a aparecer, impedir a sua ascensão. Refiro-me, especialmente, a José Veiga. Esta é uma grande questão que permanece sem resposta no meu livro.

R - Acredita que houve algum tipo de jogada de bastidores por parte de Jorge Mendes para essa tão rápida ascensão?
PR - Eu sublinho algumas coincidências de interesses em todo este processo. A ascensão de Jorge Mendes coincidiu com o aparecimento dos fundos de investimento no futebol em Portugal. Já havia fundos de investimento e partilha de passes, os Third-Party Ownerships (TPO), em Portugal muito antes de se tornarem num problema no resto da Europa. Esta questão surgiu na Europa em 2006, com a transferência de Mascherano do Corinthians para o West Ham, mas já havia fundos de investimento ativos em Portugal desde 2002, com o First Portuguese Football Players Fund, criado pelo Grupo Orey e o Banco Espírito Santo. Eu aponto no meu livro que os melhores jogadores deste fundo pertenciam ao FC Porto e ao Sporting e que aqueles com quem o fundo mais lucrou eram agenciados por Jorge Mendes. Isto é, sem sombra de dúvida, uma grande coincidência de interesses.

R - Mas havia alguma ligação de Jorge Mendes a esse fundo?
PR - Não encontrei qualquer prova de que Jorge Mendes estava ligado ao fundo, apenas posso dar conta desta coincidência de interesses. E sabemos também que José Veiga, à altura o grande inimigo de Jorge Mendes, era também particularmente averso aos fundos de investimento. Durante a minha investigação, encontrei uma entrevista de José Veiga ao Record em que demonstra uma posição completamente oposta aos fundos. Não é por acaso que, nesse primeiro ano, o Benfica tenha sido posto de parte desse fundo de investimento porque, na altura, o clube era muito próximo de José Veiga. O FC Porto e o Sporting estavam completamente envolvidos com os fundos de investimento. O mesmo voltou a acontecer no ano seguinte, com o Benfica a criar o seu próprio fundo de investimento, e o FC Porto e o Sporting a continuarem a sua relação com o Banco Espírito Santo, já sem o Grupo Orey. Também neste segundo ano, os principais jogadores eram agenciados por Jorge Mendes.

R - São maneiras diferentes de trabalhar...
PR - Sim. Jorge Mendes sempre teve uma coincidência de interesses com o mundo da finança, ao contrário de José Veiga, que sempre tentou ser um homem de finanças. Convém relembrar que José Veiga lançou a Superfute na Bolsa de Paris. Ele tinha uma espécie de complexo megalómano e também alguma arrogância na tentativa de ser um homem do futebol e da finança, um intermediário, um dirigente de um clube como o Benfica. Jorge Mendes, pelo contrário, teve a inteligência e a cautela de preferir não tornar-se num homem da finança, mas tentou sempre ter alguma relação com esse mundo. Na minha opinião, esta foi uma grande vantagem e, quem sabe, o grande segredo para a rápida entrada no mundo dos poderosos do futebol.

R - Fala de várias coincidências. Acredita que podem ser a ponta do véu que poderá levar a um mundo de corrupção ou lavagem de dinheiro?
PR - Não posso dizer isso, porque não tenho qualquer prova disso. Posso dizer que Jorge Mendes tem uma grande influência na sua relação com a parte do futebol que lida com o mundo da finança, mas não posso dizer que esteja envolvido em corrupção ou com um lado mais negro do futebol... O que também posso dizer é que Jorge Mendes é a representação perfeita de um fenómeno a que podemos chamar de "crescimento da zona cinzenta do futebol". O mundo do futebol tem, hoje em dia, um sítio em que a separação do que é legal do ilegal é aquilo a que chamo uma zona cinzenta e que está a crescer cada vez mais. Há um desvanecer do lado negro e passamos a ter uma zona cinzenta, sempre a crescer, em que vários atores e interesses podem criar relações. Na minha opinião, Jorge Mendes representa o crescimento dessa zona. Podemos dizer que aí acontecem várias ilegalidades. Podemos dizer que as regras do futebol são de certa forma alteradas. É neste território obscuro que Jorge Mendes opera, faz os seus negócios e por isso ele é a perfeita representação deste fenómeno no mundo e na economia do futebol.

R - Não há ninguém no mundo do desporto que investigue estas práticas?
PR - A FIFA abriu uma investigação ao fundo Quality Sports Investments, um fundo na Irlanda de que Jorge Mendes foi consultor. Mas qualquer tentativa de encontrar algo de novo tem-se revelado ineficaz. Acredito que, de alguma forma, a FIFA não tenha a intenção de fazer desaparecer essa zona cinzenta. Acima de tudo, as forças que se encontram por trás deste tipo de negócios são capazes de reorganizar toda a sua maneira de trabalhar. Isto é, quando a FIFA estabelece regras a proibir as práticas ilegais que acontecem nessa zona cinzenta, essas forças já encontraram nova maneira de continuar a fazê-lo. Por exemplo, a maneira como encontraram maneira de controlar os clubes.

R - Como aconteceu com os TPO...
PR - Exatamente. Com a proibição da partilha de passes, os fundos de investimento e os investidores encontraram maneira de controlar os clubes de futebol e os passes dos seus jogadores e, desta maneira, contornar essa proibição. A FIFA tem uma grande dificuldade em proibir esse tipo de negócios e não sei se, hoje em dia, continua a ter essa intenção.

R - Falou do FC Porto e do Sporting como sendo os clubes que estavam envolvidos com Jorge Mendes, mas hoje em dia o FC Porto não está tão envolvido com ele quanto já esteve no passado… Até onde é que este método vai? Que outros clubes estão envolvidos?
PR - O Benfica é, dos três grandes em Portugal, aquele que mais está envolvido com Jorge Mendes e há muitas provas disso. No meu livro menciono muitas notícias publicadas que dão conta de que Luís Filipe Vieira foi à Alemanha ou a Inglaterra com Jorge Mendes. O Seixal está cheio de jogadores que são controlados por Jorge Mendes. Hoje em dia, o Benfica é o clube diretamente mais envolvido com ele, mas o FC Porto está a voltar a ter essa ligação, depois de, num breve período, ter tido fortes ligações com a Doyen que, por sua vez, era na altura inimiga de Jorge Mendes. E é diferente com o Sporting, que neste momento é um grande inimigo de Jorge Mendes. Durante a minha investigação percebi que a grande força de Jorge Mendes, ao contrário de José Veiga ou Manuel Barbosa, é que tem uma rede de relações e poder com alguns pequenos e médios clube em Portugal. Essa é a grande diferença para José Veiga e Manuel Barbosa. Eles eram emigrantes e talvez por essa razão estavam mais interessados na dimensão internacional do futebol. Quando regressaram a Portugal, trabalharam mais com jogadores internacionais. Jorge Mendes nunca saiu do país para trabalhar e nunca perdeu o contacto com o futebol local e regional em Portugal. A sua grande força é baseada na sua rede de clubes portugueses, como o Rio Ave, Sp. Braga, V. Guimarães e, mais recentemente, o Moreirense. Esta é uma rede que Jorge Mendes utiliza para tratar dos seus negócios e fazer circular jogadores. Este é um sinal de grande força e de grande intuição.

R - Jorge Mendes não trabalha apenas em Portugal, mas em todo o mundo. Que outros clubes estão envolvidos neste tipo de negócios com Jorge Mendes?
PR - O Manchester United tem sido, historicamente, um grande investidor no negócio de Jorge Mendes. Também o Chelsea, que ganhou algum protagonismo nos últimos anos. Há o Monaco, que desempenha um papel central no sistema de Jorge Mendes. Mais recentemente, tem estado mais envolvido com o Barcelona e, em sentido contrário, tem tido mais dificuldade em negociar com o Real Madrid. Outro clube que também está ligado a Jorge Mendes é o Wolverhampton, que é o primeiro resultado da aliança entre Jorge Mendes e a Fosun. Esta é uma aliança não só com repercussões no futebol, mas na economia global. Uma das minhas teorias, enquanto o sociólogo do futebol que sou, é que a economia mundial do séc. XXI é uma economia de entretenimento. Num sistema destes, o futebol, que é um desporto global, desempenha um papel fundamental. Os empresários chineses estão perfeitamente cientes deste tipo de evolução na economia internacional e mundial e têm apostado no futebol europeu para fazer negócios que estão ligados ao entretenimento. Neste mundo, Jorge Mendes é um agente fundamental e, por isso, um aliado de peso. Outro clube que está bastante envolvido com Jorge Mendes, historicamente, é o At. Madrid. Podemos mesmo dizer que é o campeão das partilhas de passes, já trabalhou com todos os grandes actores da economia paralela do futebol: Jorge Mendes, Pini Zahavi, Doyen...

R - O Benfica vendeu recentemente alguns jogadores, como Bernardo Silva, João Cancelo, Ivan Cavaleiro... Todos eles pelo mesmo valor e sempre para os mesmos clubes: Valencia ou Monaco, sempre por 15 milhões.
PR - Esqueci-me há pouco de mencionar o Valencia e a ligação Peter Lim, é um grande capítulo no meu livro.

R - Estas transferências não são estranhas?
PR - Falo sobre isso, não apenas no livro, mas também no meu blog, 'Cercando Oblivia'. Sublinho que era curioso como qualquer transferência do Benfica para alguns clubes ligados a Jorge Mendes era sempre feita por 15 milhões ou por um múltiplo de 15. Rodrigo saiu para o Valencia por 30 milhões, que é dois vezes quinze. Pergunto-me se não serão sempre os mesmos 15 milhões que andam às voltas pela Europa e que pagam diferentes jogadores uma e outra vez. E aponto ainda outra coisa: Jorge Mendes é conhecido pelos negócios que faz e é visto pelos clubes portugueses como uma oportunidade para fazer entrar dinheiro nos cofres. Alguns dizem que ele é um importador de dinheiro para Portugal.

R - Falou de que o Valencia e a relação com Peter Lim são um grande capítulo no teu livro. Como é essa ligação?
PR - Em primeiro lugar, várias fontes apontam Peter Lim como um dos investidores dos fundos Quality Football Ireland, onde Jorge Mendes é consultor, conforme o seu advogado, Carlos Osório de Castro, afirmou em comunicado. Em segundo lugar, Amadeo Salvo, o antigo presidente do Valencia, disse que foi Jorge Mendes quem sugeriu ao clube espanhol Peter Lim, quando estava à procura de novo dono, e, durante o período em que as ofertas pela compra do clube foram avaliadas, Peter Lim e Jorge Mendes foram várias vezes tratados como uma equipa. Em terceiro lugar, Jorge Mendes teve um papel fundamental na compra da Meriton Capital ao Benfica de André Gomes e Rodrigo. André Gomes é agenciado por Jorge Mendes e o Meriton Capital é o fundo através do qual Peter Lim controla o Valencia. Em quarto lugar, Cristiano Ronaldo vendeu os seus direitos de imagem à Mint Media, em 2015, uma empresa de Peter Lim. Finalmente, vários jogadores de Jorge Mendes jogam ou jogaram pelo Valencia, que teve como treinador Nuno Espírito Santo, o seu primeiro agenciado de sempre. Mas esta relação vai além dos negócios, é também pessoal. Convém não esquecer que Peter Lim foi o padrinho de casamento de Jorge Mendes, em agosto do ano passado.

R - O Valencia atravessa dificuldades na liga espanhola. Acredita que podem ter o mesmo destino do Deportivo e do Salamanca?
PR - Ninguém falou sobre a falência do Salamanca no verão de 2013, depois de Jorge Mendes ter sido chamado para ajudar a evitá-la. Ninguém fala da descida de divisão do Deportivo de Corunha na mesma temporada, depois de Jorge Mendes ter enchido o clube de jogadores seus na janela de transferências de janeiro. O Deportivo estava abaixo da linha de água durante a pausa de inverno quando Jorge Mendes foi chamado para ajudar. Vários dos seus jogadores assinaram pelo clube: Nélson Oliveira, Tiago Pinto, André Santos, Bruno Gama, Evaldo, Pizzi, Sílvio e Roderick. Houve ainda outro jogador, Alberto Rodríguez, também ligado a Jorge Mendes que devia ter-se juntado ao clube em 2012, mas não passou os exames médicos. No final de dezembro, Domingos Paciência substituiu José Luis Oltra no comando técnico e foi a partir deste momento que o treinador se tornou agenciado da Gestifute. Depois desta experiência, a ligação entre Domingos Paciência e Jorge Mendes acabou. Alguns meios de comunicação social anunciaram o superagente como salvador do Deportivo, mas Domingos Paciência resistiu apenas seis jogos como treinador e no final da temporada o Deportivo desceu de divisão.

R - E o Salamanca?
PR - No início de 2012/13, o Salamanca atravessava uma grave crise financeira. Para remediar a situação, o antigo dono e presidente, Juan José Hidalgo tentou salvar o clube e escolheu o amigo Jorge Mendes para o ajudar. O projeto de salvação do clube foi anunciado em setembro de 2012 e a influência do superagente começou a sentir-se em dezembro desse ano, com a chegada do seu primeiro jogador, o luso-guineense Almami Moreira. No final da temporada, o Salamanca não conseguiu subir à primeira divisão (a única condição para a sua sobrevivência) e acabou por desaparecer no verão de 2013, ao fim de 90 anos de história. Em março deste ano, Hidalgo, ex-presidente do Salamanca, comprou um novo clube na República Dominicana, com a ajuda de Jorge Mendes, e em maio esteve reunido com Jorge Mendes e Peter Lim... Pergunto-me qual terá sido o motivo da reunião.

R - O que pensa da relação entre Jorge Mendes e Cristiano Ronaldo?
PIPPO RUSSO - É uma relação muito forte. Cristiano Ronaldo é a grande invenção de Jorge Mendes e é um mérito que ninguém pode negar-lhe. Há uma história muito curiosa que li na suposta biografia de Jorge Mendes escrita por dois autores espanhóis, Miguel Cuesta e Jonathan Sánchez. Durante muito tempo, acreditámos que a decisão de Sir Alex Ferguson contratar Cristiano Ronaldo foi feita depois de um jogo amigável com o Sporting, em Agosto de 2003. Nessa suposta biografia ficámos a saber que isso não corresponde à verdade. É escrito claramente que a transferência ficou fechada no dia anterior num hotel. Durante cerca de 12 anos contaram-nos uma espécie de novela que não correspondia à verdade e esta é uma outra dimensão de Jorge Mendes que é a da propaganda.

R - Jorge Mendes teve um papel importante na carreira de Ronaldo...
PR - Acho que Jorge Mendes foi crucial na afirmação precoce de Cristiano Ronaldo. Sabemos hoje que foi a intuição de Jorge Mendes que o levou a acelerar a transferência de Ronaldo para Inglaterra no verão de 2003. Foi também com esse objetivo que construiu uma relação com Alex Ferguson. Havia mais clubes ingleses interessados em Ronaldo, como o Liverpool ou o Arsenal, mas queriam deixá-lo no Sporting mais um ano para melhorar as suas capacidades. Nunca saberemos o quão diferente seria a carreira de Cristiano Ronaldo sem a sua ida para Inglaterra, mas acredito que seria um tanto ou quanto diferente. Mas o certo é que se tornou um dos maiores jogadores do futebol contemporâneo.

R - Falou de uma dimensão de Jorge Mendes que é a propaganda. Que propaganda é essa?
PR - A propaganda é um elemento fundamental não só para o sucesso dos seus jogadores, mas também para o perfil público de Jorge Mendes. Reparei na grande operação de propaganda feita para promover Renato Sanches o ano passado, que é a mesma que está a ser utilizada para promover André Silva. A propaganda é uma grande ferramenta para Jorge Mendes e ele sabe fazer muito bom uso dela.

R - Acredita no esquema que foi denunciado pelo Football Leaks que envolve, entre outros, Jorge Mendes e Cristiano Ronaldo?
Pippo Russo - Por uma questão política e cultural, acredito que todos são inocentes até prova em contrário. Por isso, espero pelas provas do inquérito e pelos possíveis processos judiciais e/ou fiscais. De momento, o que posso dizer é que não acredito na tese da manipulação. O trabalho do Football Leaks é dirigido por uma equipa de meios de comunicação social de confiança e, enquanto jornalista, posso dizer que são profissionais bastante meticulosos no tratamento da informação. Tenho plena confiança neles.

R - Pensava que o esquema pudesse ser assim tão abrangente?
PR - Acreditava que sim. O mundo do futebol é de grande ganância e, de forma geral, é cada vez mais uma zona cinzenta de interesses, entre a legalidade e a ilegalidade. É este o grande problema: temos de retirar a ambiguidade das regras, mas no mundo do futebol essa ambiguidade cresce cada vez mais.

R - Quais foram as grande dificuldades em escrever este livro?
PR - Queria escrever muito mais coisas sobre Jorge Mendes, mas este é um livro muito grande, tem 552 páginas. Podia ter escrito muito mais se tivesse tido tempo para seguir mais pistas. Não tive muito tempo e, acima de tudo, não tive as ferramentas necessárias para investigar. Foi muito difícil. É curioso que muito do material online que encontrei sobre Jorge Mendes desapareceu poucos meses depois. Talvez seja uma coincidência, mas foi um grande obstáculo à investigação. Jorge Mendes goza de boa imagem em Portugal. Jorge Mendes tem uma boa imagem em Portugal e eu tentei mostrar a outra face dele. Tem alguns pontos negativos que ninguém conta. Espero que este tipo de histórias seja mais frequente na imprensa portuguesa. Jorge Mendes está à frente de um verdadeiro império pessoal e é o homem mais poderoso do futebol mundial, mas todos sabemos, seguindo as dinâmicas da História, que todos os que estão no poder acabam por cair. Jorge Mendes tem de estar consciente destas dinâmicas. Hoje em dia ele acredita que consegue ainda mais poder quando devia estar a defender o seu poder.

R - Acha que o Football Leaks pode ser o início da queda desse império de Jorge Mendes?
PR - Falei numa queda do império num sentido lato. Quando um império chega ao seu topo, começa o seu declínio, é uma questão de dínamicas históricas. Neste assunto em particular, acredito que o Football Leaks pode ser um incidente, mas não a razão que leva a este declínio. Como qualquer outro império, o reinado de Jorge Mendes terminará porque deixou de ser sustentável, demasiado grande para sobreviver...

R - Há quem diga que esta sua investigação a Jorge Mendes é uma espécie de 'vendetta'...
PR - A sério? Serei eu o Spectre ou a Tríade? Acho que as pessoas sobrevalorizam-me. E que razão teria eu para ter uma espécie de vingança contra Jorge Mendes? Não o conheço. Estou fora do mundo do futebol, não estou envolvido nele. Sou apenas um amante do futebol que colocou algumas questões, que olhou além da representação oficial dos factos. E, com esse objetivo, investiguei o fenómeno a que chamei "a economia paralela do futebol". Isto é, analisei não apenas Jorge mendes, mas também Pini Zahavi, Kia Joorabchian, Fali Ramadani, a Doyen, Mino Raiola, Gustavo Mascardi, a ligação Macri-Arribas, entre outros. Em geral, acho que não temos de ter medo da verdade. E se Jorge Mendes, ou qualquer outra pessoa, não tem medo da verdade, então não tem de ter medo de uma qualquer "vingança".

R - Quando poderemos ler este livro em Portugal?
PR - Estou a negociar com uma editora a publicação da edição em Português. Está previsto que chegue às livrarias durante o mês de janeiro do próximo ano.

Agradecer a todos pelo apoio. Se ainda não seguem o Mister do Café nas redes sociais, podem começar já.

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4 comentários:

  1. Obrigado Mister. Excelente entrevista.

    JRamos

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  2. Não vai ser fácil derrubar o "poder que tem nas mãos" o futebol português...
    Mas vamos ter calma...
    Ao que se diz...: "Roma e Pavia não se fizeram num dia..."...

    "Destruir a corrupção" não é tarefa fácil...mas nunmca ninguém demonstrou que...seria impossível...!!

    Importante esta atenção que o "Mister do Café" dedica à parte "negra do futebol"...

    Que continue...só com trabalho também nestes casos... "poderemos ter acesso à luz do sol..."

    Bom Ano de 2017 para todos/as...!!

    SL

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  3. Corrupção??... naaaa! lol

    Mas este jornalista fala do José Veiga, e porque que é que não lhe fez oposição! .. o Veiga o tal da "Rota do Atlântico", que lidava tu cá tu lá com Presidentes de República, Ministros e CEOs de gigantes multinacionais, o que demonstra que o "modus-operandi" desta gente não tem nada de corrupto. O problema do Veiga é que a TOTAL não é nenhum presidente de clubeco qualquer ou jogador que "deixas passar o clube que eu disser ou matas quando eu disser... ou já não recebes da transferência e ou vais po Bayern ou Manchester"... practicas mais que obvias, muito difícil de provar materialmente se ninguém der com a língua nos dentes, e que não envolve nada de corrupção... nadinha mesmo!

    Será que este jornalista sabe onde o Veiga foi parar?... Não creio!.. mas pode ser que a "rota do mendes" vá parar ao mesmo sitio que a do Atlântico que era do Veiga... e que leve o Orelhas com ele, para assim termos uma fantástica reunião familiar, que encheria de imenso orgulho muito *boa* gente para os lados de Carnide.

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  4. Alias o declínio (provável queda) do Mendes é das coisas mais fáceis de prever, e não tem tanto a ver com a proibição de TPOs, e muito menos por ser impérios como este jornalista diz...

    Tem a haver com o efeito Ai Jasus!... que seria caso para assassinato, só de pensar que ele não iria fazer o que lhe dissessem e pôr a jogar um fenómeno da Musgueira que é melhor que o Ronaldo... que pode render 80 milhões agora, e muitíssimo mais ao feliz detentor do passe, depois..

    ... só que daqui a 2 ou 3 anos, pro Bayern também vai ser caso para assassinato, só de pensar em tal coisa tão anabolizante !!

    E o pessoal sabe como são as más línguas e como correm depressa e longe... nas palavras (ou sketch) dum lampião famoso é o risco que se corre quando se quer vender kunani, farfalhos ou mereketé no mercado, e vêm as más línguas dizer que a família e amigos dizem que é fruta podre!

    É terrível e injusto!

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