Ao longo dos últimos meses, muito por força de uma imprensa amestrada e da completa apatia dos "3 grandes", pouco ou nada se tem falado sobre o jogo das cadeiras na cúpula do futebol português. Com a chegada do novo ano, a imprensa entretêm os adeptos com as possíveis dispensas e contratações de novos jogadores para as suas equipas, enquanto o mercado dos dirigentes continua... silenciosamente ao rubro.
Desde o primeiro post que fiz sobre este assunto (aqui), este mercado teve algumas movimentações interessantes, com destaque para a situação de Nuno Almeida, que me faz recordar uma velha máxima do antigo Primeiro-Ministro, Luís Filipe Vieira, que dizia publicamente que os “lugares na Liga e FPF são mais importantes do que os bons jogadores”.
Ferrari Vermelho vai à box trocar de pneus
No dia 4 de outubro de 2024, com a época desportiva a decorrer, Nuno Almeida anunciou o final da sua carreira como árbitro de futebol. Na comunicação realizada pela FPF, o "Ferrari Vermelho", como é conhecido, considerou: "Sinto-me em condições para continuar ou não teria iniciado a época, mas acho que posso utilizar a minha experiência em outras áreas da arbitragem".
No espaço de dois meses, este foi o segundo árbitro a abandonar de forma abrupta a carreira com a época desportiva em curso, depois de Artur Soares Dias. Como diria alguém, "o comboio não passa duas vezes", e a oportunidade de um cargo de prestígio, poder e muito bem remunerado garantido para pelo menos uma década, não podia ser desperdiçada.
Curiosamente, a justificação para o abandono de ambos foi semelhante, assim como a disponibilidade do Jornal Record, o famoso "media partner" da Liga Portugal, para entrevistar Nuno Almeida.
Sobre a encomenda propriamente dita, os dois objetivos principais foram transmitidos. Em primeiro lugar, posicionar-se para um cargo numa estrutura liderada pelo "incansável" Pedro Proença (print anterior). Em segundo lugar, tentar libertar-se do facto de ter sido um dos árbitros que mais utilizou os vouchers do Benfica.
O Rei do voucher
Diz o "sócio" que não sabia dos vouchers no Kit Eusébio, mas a realidade é que foi o maior utilizador dos vouchers do Benfica, com umas inacreditáveis sete refeições, que custaram aos cofres da luz cerca de 1600€.
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Link completa divulgada na imprensa retirada do processo (aqui) |
Na tentativa de limpar a face, Nuno Almeida diz que "não fazia a mínima ideia" que havia um voucher na caixa, que ficou "apenas com a primeira caixa" e que ofereceu as restantes "aos amigos mais próximos de Monte Gordo", concluindo que "tive o cuidado de lhes perguntar e eles nem sabiam do que eu estava a falar".
Desde o dia da retirada da arbitragem até ao dia desta entrevista ao Jornal Record, Nuno Almeida, coadjuvado pelos propagandistas de Pedro Proença teve sessenta e seis dias para encontrar uma justificação para o facto de ser o Rei do Voucher. O melhor que conseguiu foi fazer-se passar, a si e aos seus amigos, pelos lerdinhos de Monte Gordo. Uns tipos muito ingénuos que abrem um presente e que não conseguem ver um voucher que lhes garante uma tainada monumental. Ninguém os viu nem sabe do que se trata, por isso temos de acreditar que o raio dos vouchers só podiam ser saltitantes - como as papoilas - e que, sem ninguém lhes tocar, foram até ao Museu da Cerveja para serem descontados. É de facto extraordinário.
Isto vindo do artista que na mesma entrevista diz não fazer "a mínima ideia" de onde surgiu a alcunha de Ferrari Vermelho. Nós sabemos, Nuno. Nós sabemos muito bem.
Ferrari em excesso de velocidade
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Link da notícia (aqui) |
Eu sei que há malta muito esquecida, mas eu ainda sou do tempo em que José Fontelas Gomes, atual Presidente do Conselho de Arbitragem da FPF e na altura Presidente da APAF, defendia os árbitros que usaram os vouchers com a justificação de "O código de ética da UEFA estabelece que o valor máximo das lembranças não pode ultrapassar os 200 francos suíços, o que dá qualquer coisa como 183 euros".
Queira o caro leitor recuar um pouco neste texto e verificar que das sete jantaradas do Ferrari Vermelho, três são bem acima desse limite, sendo que é justo destacar aquela que deve ter sido uma jantarada memorável e que custou perto de 600€. Coisa pouca.
Ferrari Vermelho na poll position
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Link da notícia (aqui) |
Na passada sexta-feira, em comunicado, a candidatura de Pedro Proença fez saber que além de querer triplicar o número de árbitros, já tem nomes para o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, com Luciano Gonçalves, atual presidente da APAF, a ser o candidato à Presidência, enquanto que, espante-se, Nuno Almeida será o vice-Presidente com a responsabilidade pela seção profissional. Serão estes os homens de mão de Pedro Proença para meterem a arbitragem na ordem.
Ainda ontem, vimos Di Maria fazer isto ao árbitro João Godinho sem lhe ter sido dada ordem de expulsão. Nuno Almeida foi um árbitro medíocre e nunca chegou sequer a internacional. Apesar disso, e ainda não tendo tomado posso como líder pelo apito profissional em Portugal, mostra já que é uma inspiração para o atual lote de apitadores nacionais, como podem ver de seguida.
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Liderança implacável: Recordação do dia em que Luisão encostou a cabeça a Nuno Almeida e... nada aconteceu. |
De Alcanadas para o Mundo - O Rei dos Bilhetes e da ética
Se Nuno Almeida é o Rei dos Vouchers e da disciplina, Luciano Gonçalves é o Rei dos Bilhetes e da ética.
Recordemos o belíssimo episódio em que Luciano Gonçalves pediu 50 bilhetes ao Benfica para os amigos de Alcanadas
(aqui) ou o extraordinário caso de 2004, onde mostrava já ser um artista multifacetado. Na ocasião, conseguia ser árbitro de futebol, jogador e dirigente. Uma versatilidade que lhe permitiu apitar um jogo entre duas equipas da mesma divisão que o clube no qual era jogador e dirigente, o Centro Recreativo de Alcanadas.
De facto, as gentes de Monte Gordo e de Alcanadas têm a sorte de ter amigos tão dedicados e atenciosos como aqueles que serão, previsivelmente, os novos líderes do apito em Portugal. Já diz o provérbio, "Amigo diligente, é melhor do que parente".