domingo, 5 de janeiro de 2025

Apito ao poder - Parte II

Ao longo dos últimos meses, muito por força de uma imprensa amestrada e da completa apatia dos "3 grandes", pouco ou nada se tem falado sobre o jogo das cadeiras na cúpula do futebol português. Com a chegada do novo ano, a imprensa entretêm os adeptos com as possíveis dispensas e contratações de novos jogadores para as suas equipas, enquanto o mercado dos dirigentes continua... silenciosamente ao rubro.  

Desde o primeiro post que fiz sobre este assunto (aqui), este mercado teve algumas movimentações interessantes, com destaque para a situação de Nuno Almeida, que me faz recordar uma velha máxima do antigo Primeiro-Ministro, Luís Filipe Vieira, que dizia publicamente que os “lugares na Liga e FPF são mais importantes do que os bons jogadores”. 

Ferrari Vermelho vai à box trocar de pneus 

https://www.fpf.pt/pt/News/Todas-as-not%C3%ADcias/Not%C3%ADcia/news/46483
Link (aqui)

No dia 4 de outubro de 2024, com a época desportiva a decorrer, Nuno Almeida anunciou o final da sua carreira como árbitro de futebol. Na comunicação realizada pela FPF, o "Ferrari Vermelho", como é conhecido, considerou: "Sinto-me em condições para continuar ou não teria iniciado a época, mas acho que posso utilizar a minha experiência em outras áreas da arbitragem".

No espaço de dois meses, este foi o segundo árbitro a abandonar de forma abrupta a carreira com a época desportiva em curso, depois de Artur Soares Dias. Como diria alguém, "o comboio não passa duas vezes", e a oportunidade de um cargo de prestígio, poder e muito bem remunerado garantido para pelo menos uma década, não podia ser desperdiçada. 

Curiosamente, a justificação para o abandono de ambos foi semelhante, assim como a disponibilidade do Jornal Record, o famoso "media partner" da Liga Portugal, para entrevistar Nuno Almeida. 

Sobre a encomenda propriamente dita, os dois objetivos principais foram transmitidos. Em primeiro lugar, posicionar-se para um cargo numa estrutura liderada pelo "incansável" Pedro Proença (print anterior). Em segundo lugar, tentar libertar-se do facto de ter sido um dos árbitros que mais utilizou os vouchers do Benfica. 

O Rei do voucher


Diz o "sócio" que não sabia dos vouchers no Kit Eusébio, mas a realidade é que foi o maior utilizador dos vouchers do Benfica, com umas inacreditáveis sete refeições, que custaram aos cofres da luz cerca de 1600€. 

Link completa divulgada na imprensa retirada do processo (aqui)

Na tentativa de limpar a face, Nuno Almeida diz que "não fazia a mínima ideia" que havia um voucher na caixa, que ficou "apenas com a primeira caixa" e que ofereceu as restantes "aos amigos mais próximos de Monte Gordo", concluindo que "tive o cuidado de lhes perguntar e eles nem sabiam do que eu estava a falar".

Desde o dia da retirada da arbitragem até ao dia desta entrevista ao Jornal Record, Nuno Almeida, coadjuvado pelos propagandistas de Pedro Proença teve sessenta e seis dias para encontrar uma justificação para o facto de ser o Rei do Voucher. O melhor que conseguiu foi fazer-se passar, a si e aos seus amigos, pelos lerdinhos de Monte Gordo. Uns tipos muito ingénuos que abrem um presente e que não conseguem ver um voucher que lhes garante uma tainada monumental. Ninguém os viu nem sabe do que se trata, por isso temos de acreditar que o raio dos vouchers só podiam ser saltitantes - como as papoilas - e que, sem ninguém lhes tocar, foram até ao Museu da Cerveja para serem descontados. É de facto extraordinário.  

Isto vindo do artista que na mesma entrevista diz não fazer "a mínima ideia" de onde surgiu a alcunha de Ferrari Vermelho. Nós sabemos, Nuno. Nós sabemos muito bem.  

Ferrari em excesso de velocidade


Link da notícia (aqui)

Eu sei que há malta muito esquecida, mas eu ainda sou do tempo em que José Fontelas Gomes, atual Presidente do Conselho de Arbitragem da FPF e na altura Presidente da APAF, defendia os árbitros que usaram os vouchers com a justificação de "O código de ética da UEFA estabelece que o valor máximo das lembranças não pode ultrapassar os 200 francos suíços, o que dá qualquer coisa como 183 euros". 

Queira o caro leitor recuar um pouco neste texto e verificar que das sete jantaradas do Ferrari Vermelho, três são bem acima desse limite, sendo que é justo destacar aquela que deve ter sido uma jantarada memorável e que custou perto de 600€. Coisa pouca.

Ferrari Vermelho na poll position


Link da notícia (aqui)

Na passada sexta-feira, em comunicado, a candidatura de Pedro Proença fez saber que além de querer triplicar o número de árbitros, já tem nomes para o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, com Luciano Gonçalves, atual presidente da APAF, a ser o candidato à Presidência, enquanto que, espante-se, Nuno Almeida será o vice-Presidente com a responsabilidade pela seção profissional. Serão estes os homens de mão de Pedro Proença para meterem a arbitragem na ordem. 

Ainda ontem, vimos Di Maria fazer isto ao árbitro João Godinho sem lhe ter sido dada ordem de expulsão.  Nuno Almeida foi um árbitro medíocre e nunca chegou sequer a internacional. Apesar disso, e ainda não tendo tomado posso como líder pelo apito profissional em Portugal, mostra já que é uma inspiração para o atual lote de apitadores nacionais, como podem ver de seguida. 

Liderança implacável: Recordação do dia em que Luisão encostou a cabeça a Nuno Almeida e... nada aconteceu.

De Alcanadas para o Mundo - O Rei dos Bilhetes e da ética 


Se Nuno Almeida é o Rei dos Vouchers e da disciplina, Luciano Gonçalves é o Rei dos Bilhetes e da ética. 

Recordemos o belíssimo episódio em que Luciano Gonçalves pediu 50 bilhetes ao Benfica para os amigos de Alcanadas (aqui) ou o extraordinário caso de 2004, onde mostrava já ser um artista multifacetado. Na ocasião, conseguia ser árbitro de futebol, jogador e dirigente. Uma versatilidade que lhe permitiu apitar um jogo entre duas equipas da mesma divisão que o clube no qual era jogador e dirigente, o Centro Recreativo de Alcanadas. 


De facto, as gentes de Monte Gordo e de Alcanadas têm a sorte de ter amigos tão dedicados e atenciosos como aqueles que serão, previsivelmente, os novos líderes do apito em Portugal. Já diz o provérbio, "Amigo diligente, é melhor do que parente".