Na sua última conferência de imprensa como treinador do Sporting antes de rumar ao Manchester United, Rúben Amorim deixou um aviso que foi olimpicamente ignorado pelo futebol português.
“Os orçamentos das equipas pequenas e das equipas grandes começam a fazer uma grande diferença no campeonato. Se não nos desenvolvermos todos, vamos ficar ainda piores.”
Senti a declaração como um desabafo neste momento de partida para o melhor campeonato do mundo, mas, sobretudo, como um sinal de alerta para a abertura de uma discussão muito séria sobre o futuro do futebol em Portugal.
Haverá certamente muitos responsáveis pela situação a que chegámos, mas há só há uma figura com real abrangência, poder e responsabilidade de defender a sustentabilidade dos todos os clubes profissionais e a competitividade e integridade daquela que é a competição mais importante do país. Falo, obviamente, do Presidente da Liga de Clubes, Pedro Proença.
A realidade é que levamos já mais de 9 anos de Pedro Proença à frente da Liga e o fosso entre os três grandes e os restantes competidores é cada vez maior. Ainda sou do tempo em que se dizia que "os campeonatos decidem-se nos jogos com os pequenos". Hoje, essa parece uma realidade cada vez mais distante, com cada vez menos equipas pequenas a baterem o pé aos grandes. Veja-se por exemplo o caso de nos últimos 3 campeonatos onde por duas ocasiões os vencedores chegaram à barreira dos 90 pontos.
A título de exemplo, veja-se os pontos alcançados na Liga pelo FC Porto, campeão europeu em 2004 com José Mourinho, ou pelo Sporting da dobradinha de Mário Jardel, e compare-se em que lugar na classificação ficariam essas equipas, numa das últimas nove Ligas Proença.
Pedro Proença e seus pares não só não combatem o fosso entre grandes e pequenos, como o tentam tornar ainda mais fundo. Veja-se, por exemplo, o formato inacreditável que a Liga montou para a Taça da Liga, colocando os 4 primeiros classificados da Liga da época anterior a jogarem em casa contra o 5.º, 6º lugares e os 2 clubes que subiram de divisão. Que outro resultado se espera que não o que voltou a ocorrer com uma final-4 com Sporting, Porto, Benfica e Braga?
Proencinha, Proenchinha...
São 9 anos de muita propaganda e onde a única obra feita – ainda assim, por concluir - será mesmo a obra do betão, com a concretização de um projeto megalómano de uma nova sede para a Liga. Espaço que terá uns tão impressionantes, como desnecessários, sete andares e custará a módica quantia de 18 milhões de euros. Obra que Proença não deverá inaugurar, já que todo o país desportivo já percebeu que está de malas e bagagens aviadas para a Cidade do Futebol.
https://www.ligaportugal.pt/pt/epocas/20242025/noticias/institucional/direcao-da-liga-portugal-apoia-solucao-de-pedro-proenca-para-a-fpf/# |
Se o futebol português tivesse a mesma criatividade e competência para resolver os seus problemas como os seus protagonistas têm para as jogadas de bastidores, ninguém nos parava. Note-se, por exemplo, que Pedro Proença, ainda nem sequer assumiu publicamente a sua candidatura, mas conta já com o apoio da sua própria direção da Liga de clubes, o que é uma coisa absolutamente extraordinária. A mesma direção que se comprometeu com Pedro Proença a fechar o dossier mais importante da história do futebol português: a centralização dos direitos TV.
Mas não desesperem, que o Proencinha tem alguém de confiança e um "talento que marca o mundo" para liderar esse processo ao leme da Liga.
Soares Dias - "Um talento que marca o mundo"
https://www.ligaportugal.pt/pt/epocas/20242025/noticias/geral/awards/artur-soares-dias-distinguido-com-o-premio-talento-que-marca-o-mundo |
Para a Liga, o lobby do apito apresenta-nos Artur Soares Dias, que fruto das circunstâncias, antecipou de forma abrupta a sua saída da arbitragem, prevista para o final da atual época desportiva.
A 8 de agosto, a um dia do início do campeonato do qual fazia parte do grupo principal de árbitros e dias depois da "piscinada" com Pinto da Costa, anuncia oficialmente ao conselho de arbitragem da FPF e à UEFA a sua retirada. Apenas uma semana depois é que essa decisão foi tornada pública e pelo próprio, de forma claramente profissional, com uma série de comunicados de imprensa e de entrevistas nos mais variados meios. O comboio de Proença para a Federação já estava e andamento e Soares Dias teve mesmo de antecipar a entrada para chegar ao apeadeiro da Liga Portugal.
Chegados aqui, e já que teremos Proença na Federação, Soares Dias na Liga, porque não parir-se mais um ex-apitador, mesmo que seja daqueles bem medíocres e coloca-lo na Associação de Futebol de Lisboa?
Onde se vê? É na Sporttv...
https://www.abola.pt/futebol/noticias/-2024100111370342719?srsltid=AfmBOor4il_0A5o23scxxpzPqN3GRiP8s3ucroUCJgiZcsst_U0bLX4n |
Já diz o povo, que "não há duas, sem três". De árbitro medíocre com uma passagem relâmpago pelo quadro principal do apitadeiro nacional, através de um expediente de secretaria, a expert do apito de carrinha na Sporttv, foi um tirinho. Rui Rodrigues está agora lançado aquela que é a maior Associação de Futebol do país, em termos de praticantes.
"Uma maioria, um Governo e um Presidente"
Tive curiosidade e pesquisei por ex-árbitros ou pessoas ligadas ao mundo da arbitragem que tenham chegado à liderança de federações ou ligas de futebol em todo o mundo. O resultado foi simples: nem um único nome para amostra.
Cá no burgo, preparamo-nos para a originalidade, de com a conivência dos clubes e das associações de futebol, estarmos prestes a subjugarmo-nos à vontade do apito nas nossas três maiores instituições futebolísticas.
Mas falamos de Portugal, o país de históricos pergaminhos, onde os filhos paridos do "Apito Dourado", dos "vouchers", da "agência Cosmos", dos "Padres e das missas", dos "sacos vermelhos e azuis" ou do "café com leite", entre muitos outros, conseguem transformar cadastro em curriculum.
Além de donos do apito, passam a ser também os donos da bola. Resta saber até quando terão adeptos.