quarta-feira, 4 de abril de 2018

Nomeações à portuguesa


Todas as semanas são despendidas centenas de horas dedicadas ao fenómeno futebolístico, quer nas televisões, quer nas rádios. Grande parte desse tempo é preenchido com a análise exaustiva de temas sem qualquer tipo de relevância para o futuro do futebol em Portugal. É evidente a opção dos meios de comunicação social pelas polémicas estéreis em detrimento dos temas de fundo do futebol português. Hoje quero dar um bom exemplo disso mesmo.

Nomeações à Portuguesa


Não tenho a certeza absoluta, mas julgo que a Liga Portuguesa será neste momento a única competição do futebol mundial em que os nomes dos árbitros são conhecidos apenas umas horas antes da partida. Recordo que esta alteração foi implementada a meio da época, sem qualquer tipo de consulta aos clubes. Num primeiro momento, o conselho de arbitragem até optou por não divulgar os nomes dos árbitros. Os clubes e os adeptos só tinham conhecimento do nome quando vissem o árbitro no Estádio. Depois, a opção passou por anunciar a nomeação umas horas antes da partida e este tem sido o método utilizado desde então.

Regulamentos atropelados



Chegados a este ponto, tenho a dizer que considero esta decisão como sendo absolutamente aberrante, já para não falar na sua ilegalidade. Só mesmo neste país é que mentes tão iluminadas optam pelo caminho das sombras em detrimento do caminho da transparência. Olhando para isto desta forma, tenho uma sugestão para apresentar ao senhor José Fontelas Gomes. Melhor do que divulgar a nomeação no próprio dia, que tal obrigar os árbitros a apitarem com aquelas meias que os ladrões usam nos filmes de Hollywood. Uma coisa deste género.


Gostaram ou não? Isto sim, era o ideal. Assim nem sequer sabíamos o nome do responsável pelo apito. Uma espécie de carrasco da era moderna. 

Transparência


Não se deixem enganar pelo argumento do "temos de proteger o árbitro". Pensem nisto: Quem é que sai beneficiado por esta medida? Serão os árbitros ou o conselho de arbitragem? 

Os árbitros serão sempre criticados mediante a sua prestação no campo. Já o conselho de arbitragem só pode ser criticado pelas nomeações que faz. Ora, sendo as nomeações divulgadas no próprio dia do jogo, não há espaço mediático para a nomeação ser devidamente analisada. O caso da nomeação de Luís Godinho para o principal jogo da última jornada (Braga-Sporting) é um exemplo claro e evidente disso mesmo. Já repararam que ninguém disse uma palavra sobre esta nomeação? O principal beneficiário deste método vergonhoso é o conselho de arbitragem e o seu presidente que assim foge ao escrutínio. Já repararam que desde que esta medida foi implementada, nunca mais ninguém falou no homem? É assim que estes artistas se perpetuam no poder. 

A escolha por este caminho das sombras tem um intuito claro, que passa por não permitir o escrutínio da sociedade. Os clubes, adeptos, jogadores, treinadores, jornais, etc têm o direito de saberem quem será o juiz escolhido para o jogo. O que diria um cidadão se partisse para um julgamento tendo apenas conhecimento do juiz no dia do julgamento? 

Um exemplo perfeito


Ontem tivemos o exemplo perfeito da razão pela qual as nomeações devem ser divulgadas com toda a antecedência. De manhã, a UEFA anunciou que o árbitro do Atlético de Madrid-Sporting será o senhor Sergei Karasev. Um árbitro que da única vez que apitou o Sporting nas competições europeias teve uma prestação vergonhosa e que fez notícia um pouco por todo o mundo. Estão por certo recordados do Schalke 04-Sporting para a fase de grupos da Champions em 2014/2015. Um jogo em que o Sporting jogou mais de 60 minutos com 10 jogadores após uma expulsão errada de Maurício, um jogo em que o Schalke marcou um golo em offside e para acabar em beleza foi também um jogo em que foi transformada uma bola que foi à cabeça de Jonathan Silva num pontapé de penálti.  Mais informação (aqui)

Esta nomeação é aberrante e tem de ser imediatamente repudiada por todas as pessoas que gostam de futebol. A Liga e a FPF não podem ficar caladas perante isto. Urge defender o futebol português desta afronta absoluta. Como é possível que com tantos árbitros disponíveis, a UEFA tenha escolhido este senhor para apitar o jogo de cartaz dos quartos de final de Liga Europa? Não faço a mínima ideia se o árbitro russo merece ou não estar nuns quartos de final da Liga Europa. Nem questiono isso. Apenas digo que existem nesta fase serão disputados 8 jogos e que o artista tinha logo de cair no jogo do Sporting e logo fora de casa. São estas coincidências e esta falta de bom senso que não credibilizam o futebol. 

A transparência da divulgação antecipada da nomeação serve para isto mesmo. Para que as pessoas possam ter uma opinião sobre as questões. É disto que os senhores da FPF, nomeadamente Fernando Gomes e José Fontelas Gomes têm medo. 

E recordo que estes dois senhores têm responsabilidades acrescidas. Como sabemos, Fernando Gomes é vice-presidente da UEFA e José Fontelas Gomes é membro do Conselho de Arbitragem da UEFA e é um dos responsáveis por esta nomeação vergonhosa.


Coincidências...

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5 comentários:

  1. Eu não vejo coincidencia nenhuma. Depois da intervenção do BdC ontem no Parlamento e mais o mal estar que claramente causou ao Fernando Gomes durante o Future of Football, esta nomeação é claramente uma represália. Ou seja, colocam os interesses pessoais acima do interesse nacional. Vergonhoso.

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  2. Mas eu pergunto: Se estão a atropelar os regulamentos, qual é a sanção prevista?

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  3. Interessante, quando assistimos ontem fernando gomes a mentir a todos os portugueses e a refugiar-se nos regulamentos em resposta a BdC na Assembleia da república, ao afirmar que o áudio dos árbitros e imagens do VAR não podiam ser disponibilizadas no estádio aos adeptos, porque ia contra os regulamentos. Felizmente no Future of Football ficámos a saber que a liga americana tem isso implementado e um dos responsável da international board afirmou que não havia nenhum impedimento e que esta questão estaria ao critério de cada Federação.

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  4. Enquanto nomearem árbitros de países em que as grandes empresas são o patrocionador dos grandes clubes europeus, e, que, por esses motivos, o interesse económico impera em detrimento do desportivo, a UEFA irá sempre "bater" nos clubes dos países como Portugal.

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  5. E alguém acredita que "quem nós sabemos" já não sabe previamente quem vai apitar os jogos antes de ser divulgado publicamente? Foi para isso, acima de tudo, que serviu esta medida. Aliás, é ver como, desde então, "quem nós sabemos" só perdeu, na totalidade, seis míseros pontos - e dois deles estou bem em crer que não estavam propriamente nos planos (Reste... perdão, Belenen... perdão, foi engano!). Até esse momento, já tinham sido sete pontos para o galheiro! Não há coincidências.

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